sábado, 28 de fevereiro de 2009

Bloco de Esquerda. Um projecto a ser acarinhado.

O Bloco comemora hoje dez anos. E dez anos passados, o Bloco de Esquerda incorpora as mais amplas expectativas, no projecto de reunificação das esquerdas plurais e da constituição de uma alternativa socialista, a uma doutrina económica e social apresentada como indiscutível, mas que aqui como noutras partes do mundo, apenas tem trazido mais desemprego, pobreza, menos direitos sociais a uns e ao contrário, enriquecimentos ilícitos a outros, aprofundando ainda mais as desigualdades sociais.

O Bloco de Esquerda, com alguns erros de percurso, com algumas indecisões e incongruências ainda, tem feito um percurso sério, uma oposição capaz e consequente, uma denúncia enérgica das manigâncias políticas, dos negócios ruinosos, dos tráficos de influências, dos malabarismos de uma classe política e uma elite empresarial, incompetente, desavergonhada, canalha que, absorvidos nas suas carreiras políticas ou nos seus ganhos egoístas e avaros, ao menor sintoma de adversidades, que não são mais do que umas pausas nos lucros e vantagens adquiridas ao longo dos anos, atiram para as costas dos trabalhadores, das populações mais indefesas, das famílias mais pobres, as suas pequenas dificuldades, mesmo que isso signifique o arruinar das famílias, o aumentar da pobreza, trazer a miséria e a fome a muitas casas, o acabar de grandes conquistas e direitos sociais que foram e são grandes avanços civilizacionais.

Não estando todos os que se reivindicam de esquerda, sempre de acordo com as posições políticas do Bloco; de acordo com algumas propostas ou prioridades, encontrando-se ainda, aqui e ali, alguns tiques de sobranceria intelectual e moral, creio ser inegável que o Bloco se apresenta como a força política, melhor preparada, mais sólida, mais abrangente à esquerda, para se posicionar, como a verdadeira força política de esquerda e da oposição, para arquitectar um projecto de unidade e de alternativa ao sistema político vigente, num quadro de democracia representativa e democracia participativa, um regime socialista, assente num modelo de democracia semi-directa.

Embora razões particulares e políticas me tenham afastado da militância política no Bloco (a que pertenci quase desde o inicio), que seriam superáveis no debate político, mas que sendo repetições de outros no passado, se sobrepõem o cansaço psicológico e uma pouca paciência para aspectos políticos, para mim, completamente desajustados, no tempo e pelo tempo, considero o Bloco de Esquerda, uma esperança que não pode ser desaproveitada ou enjeitada, depois de mais de trinta anos sem uma verdadeira alternativa de esquerda, se quisermos construir um projecto de unidade, de convergências e de alternativa política de poder.

Os ataques do PS neste congresso, as afirmações de Pedro Passos Coelho que habituais eleitores do PSD irão votar no Bloco, os desesperos de Sócrates quando Louçã intervém, as investidas agressivas de algumas pessoas influentes na imprensa, indiciam que o Bloco está a incomodar muita gente e a ganhar apoios populares. Há que dar força a este projecto pois, sendo que os militantes bloquistas não devem pensar o Bloco como um fim, mas como um instrumento do combate político pluralista das esquerdas anti-capitalistas; um projecto a ser construído paulatinamente para uma alternativa consistente e duradoira.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Seis verdades, três mentiras.

À Helena não digo que não. Então aí vai o desafio proposto que fica entregue a quem quiser dar-lhe continuidade. A seguir vão 9 questões, sobre mim, das quais seis são verdadeiras e três falsas. Se alguém quiser descobri-las, faça o favor:

1 – Estou mais à esquerda agora que há dez anos atrás e mais à “direita” que há vinte.
2 – Já estive em mais do que um país estrangeiro.
3 – A minha mulher adorou a minha reforma porque agora sou eu que faço quase tudo em casa.
4 – Prefiro ter as liberdades todas e poder lutar pelos direitos essenciais do que ao contrário.
5 – Sou uma pessoa solidária/solitária.
6 – A mulher é para mim a força da natureza.
7 – José Mário Branco o “maior”. Zeca Afonso o génio. Paulo de Carvalho a voz.
8 – Já fui condenado por um crime de difamação.
9 – O clube: Sporting Clube de Portugal

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Pornografia é o quê?

Um irmão meu, antes do 25 de Abril de 74 (antes de 74 quer dizer no tempo do fascismo), foi multado pela polícia dos costumes, por ter sido apanhado a dar um beijo à namorada, no jardim público. O filme já está de volta. A regulação do gosto e dos costumes pela cartilha moralista-religiosa veio para ficar. Depois da censura às micro-imagens de mulheres desnudas no Magalhães do Carnaval de Estarreja a polícia de Braga apreendeu vários exemplares de um livro de pintura que na capa reproduzia um quadro de o pintor Gustave Courbet, por sinal exposto no Museu D'Orsay em Paris, por considerarem a imagem pornográfica, posteriormente rectificado por constituir um "perigo contra a ordem pública".

Esqueceram-se da pornografia que interessa combater; aquela que o crime compensa; a de se pagar uma multa de 5 mil euros por um crime provado de corrupção na forma tentada, na ordem dos 200 mil euros.

Indecências

Os níveis de desemprego são muito preocupantes. A inscrição de 70 334 novos desempregados em Janeiro nos centros de emprego é a imagem da dimensão da angústia que afecta centenas de milhares de famílias. Quando em Dezembro, um Sócrates farsola, arrogante, depreciava os números de desemprego, abaixo das previsões (números enganadores, mascarados pela “saída” meramente estatística de desempregados em formação profissional), estava a exercitar o discurso mentiroso, com que vem apunhalando os portugueses mais desprotegidos, mostrando aquilo que é verdadeiramente; uma pessoa falsa e de uma insensibilidade social arrepiante.

Como se não bastasse tem recusado todas as propostas da oposição que pretendem atenuar as dificuldades das famílias mais pobres e atingidas pelo drama do desemprego: dilatando a concessão do subsidio de desemprego de longa duração; atribuindo-o a desempregados do trabalho precário; diminuindo o tempo de trabalho efectivo para ter direito aos subsidio; “suspendendo” as prestações de empréstimos de habitação que resultaram de despedimentos; renegociando Spread’s; impedindo o desemprego em empresas cotadas na bolsa; nas que tiveram lucros; nas que receberam apoios estatais, etc, etc.

Mas a juntar a um governo que desde cedo mostrou as suas prioridades: atacar os direitos sociais e laborais dos trabalhadores, as reformas dos idosos, os portugueses que atravessavam mais dificuldades; para combater o défice das contas públicas, cuja responsabilidade é deles próprios, das suas incompetências e da ladroagem na gestão da coisa pública, ao longo dos anos de democracia, em seu favor e dos amigos e compadres, temos um patronato, na sua maioria, ganancioso, sem escrúpulos, sem humanidade e incompetente.

Um jornalista do Diário de Negócios a propósito do generoso “perdão” de uma dívida da Cimpor de 62 milhões de euros dizia que “…há acções que, de tão escandalosas, nos deviam alertar para a ideologia que nunca caduca: a da decência e da vergonha na cara.”. Tem toda a razão. Como tem toda a razão o Presidente do grupo Jerónimo Amorim quando afirma:

Perante a crise, primeiro lançaria mão das reservas financeiras (uma reserva dos lucros de anos anteriores), segurando-se com um tempo de prejuízos; depois deixaria de pagar dividendos; em terceiro lugar diminuiria os salários dos administradores e quadros do grupo; em quarto lugar, se tudo isto não chegasse, negociaria com os trabalhadores a redução do horário do trabalho e só no fim, no fim mesmo, se os prejuízos fossem insustentáveis, poderia avançar com os despedimentos (da crónica de Miguel Sousa Tavares no Expresso).

Diferenças marcantes!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

A vitória da coragem e seriedade. Domingos Névoa condenado por corrupção

Algumas ilações do caso Sá Fernandes/Bragaparques: a) que Domingos Névoa é um corrupto (e é-se corrupto sempre, em Lisboa, Coimbra ou Braga – uma boa oportunidade, portanto, para rastrear os negócios da Bragaparques em todo o país) b) que o crime apesar de tudo compensa (5 mil euros de multa é uma anedota) c) que (também) existem pessoas sérias e corajosas a exercer cargos públicos (parabéns a Sá Fernandes) d) que mesmo reconhecendo a autoria do crime, o Ministério Público pode pedir uma absolvição e) que a Justiça às vezes funciona f) que a corrupção pode ser um acto lícito.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Uma lição de Saramago

Em poucas palavras Saramago oferece-nos uma lição política sobre conceitos ideológicos, tidos como adquiridos de forma dogmática e ortodoxa, por alguns ditos revolucionários. Com uma lucidez extraordinária Saramago questiona o uso da violência física como sequestros, assassinatos, torturas, contra adversários ou inimigos políticos, mesmo simples cidadãos, como arma de combate político.

Saramago interroga-se e interroga-nos se uma linha de actuação baseado na violência fácil não arrastam consigo características genéticas que se afirmarão no poder de forma igualmente cruel. Eu, sinceramente partilho deste ponto de vista. Não sendo propriamente um pacifista, entendo que a pressão sobre os regimes mesmo os mais tiranos, não se faz à custa da humilhação, da dignidade e da violência física sobre as pessoas, por muita repulsa, nojo ou criminosas que elas sejam, e claro muito menos, sobre pessoas inocentes.

A violência revolucionária tem muitas formas de se exprimir. Para não chegar muito longe, lembro os últimos acontecimentos na Grécia ou na França aqui há uns anos atrás, aquando do assassinato de um imigrante. Ou do tipo que participei (curiosamente na altura muito criticada pelo PCP - que agora defende as FARC) no longínquo ano de 1976; o assalto e incêndio à embaixada de Espanha em protesto contra a condenação à morte de nacionalistas bascos.

Tal como Saramago, não concebo este tipo de actuações terroristas

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Um negócio escandaloso, Cimpor e a CGD

"...há acções que, de tão escandalosas, nos deviam alertar para a ideologia que nunca caduca: a da decência e da vergonha na cara."




Uma vergonha, uma indecência, uma escandaleira, um roubo aos contribuintes. Um país de fracos líderes políticos, empresários sem escrúpulos, de responsáveis executivos incompetentes, um país de corruptos. Um nojo! Leiam e tirem as Vossas própria conclusões.

Um artigo de opinião a não perder. Certeiro e corajoso. Os meus parabéns ao seu autor. E à oposição que não se distrai, entre outras.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Cheira-me a desculpa de mau pagador

O deputado do PSD Pedro Duarte tem uma conta no Twitter. Para quem não sabe aquela coisa serve para mandar umas bocas com 140 caracteres de cada vez. O senhor deputado estava a seguir o Prós e Contras de ontem sobre o casamento de homossexuais e ao mesmo tempo a comentar as incidências no Twitter, como tantos outros. Num desses comentários terá dito que a Jurista, em representação do SIM, precisava de HOMEM. Como? Não podia ser! Ia lá um homem tão respeitável, deputado cioso e respeitador, todo certinho, certamente um bom cristão, produzir grosserias pornográficas! Está-se mesmo a ver que alguém, indevidamente, se apropriou da sua chave de acesso. Tá-se, Tá-se. Um descuido fatal e uma justificação que não cola.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Chavez ganhou o referendo

Acho piada a certos democratas de pacotilha. O Homem ganhou as eleições não usurpou o poder. Hugo Chavez, ao contrário do que é sugerido, mais ou menos explicitamente, não submeteu ao eleitorado a sua perpetuação no poder mas sim a possibilidade de voltar a ser candidato, sem limitações. Chavez será Presidente eternamente ...enquanto o Povo quiser, em eleições livres e democráticas, confirmadas por observadores internacionais. Ser democrata é respeitar o resultado das eleições ...quando os resultados nos são desfavoráveis. É claro que há muitos exemplos de ditadores que chegaram ao poder através das eleições e por lá ficaram alterando o quadro constitucional. O que é preciso é pois não baixar a guarda. Na Venezuela como ...em Portugal. Defender a transparência, o rigor democrático, exercer uma cidadania existente. Não deixa contudo de ser claro para mim que a democracia é bem melhor com uma limitação de mandatos.

Um olhar sobre a militância partidária

Ser militante de um partido não é propriamente uma coisa bem vista. Na maledicência nacional quem está na política é alguém que anda à procura de benefícios pessoais, especialmente, quando essa militância se dá nos partidos mais próximos dos poderes ou das influências. Não deixa contudo de ser um pouco verdade. Olhando para os partidos que nos representam, são bem visíveis, os encostos aos chefes, aos donos dos aparelhos, às figuras que gozam de ascendência dentro da estrutura. Quando hoje se fala de medo no PS (mas podia ser no PSD também) é o medo de perder um lugar: no aparelho de Estado, no parlamento, nos municípios. E por consequência toda a corte de favores, negociatas, influências.

Mas ao mesmo tempo é de uma grande injustiça dizer que toda a gente se move por interesses oportunistas. Digo mesmo que se há coisas que me custa ouvir ou ler é que os políticos são todos iguais. Que é tudo a mesma cambada de comedores. Eu sei que isto não é verdade. Não digo isto por mim -mas poderia dizer, não obstante ter deixado a militância partidária; falo em nome de muitas pessoas que sei que dão o corpo ao manifesto. Porque querem mudar. Porque querem mais justiça e igualdade social. Que não se acomodam, não se rendem, não se vendem. E alguns estão no parlamento. Porque acreditam que é nos partidos que podem defender melhor os interesses colectivos dos mais desfavorecidos. Dizer que são todos iguais é lavar a face aos políticos trafulhas, corruptos, impostores. Eu admiro e respeito todos aqueles que nos partidos ou fora deles, não se conformam, que lutam todos os dias, que têm uma exigência cívica muito elevada. Saber separar as águas é importante para saber onde estão os nossos aliados ou nossos adversários, políticos e de classe. Tudo igual e tudo no mesmo saco é que não!

Alguma da desconfiança sobre os políticos tem muito a ver com o funcionamento dos partidos. E a pergunta logo se impõem: serão os partidos, suficientemente abertos e apelativos, capazes de oferecer um debate livre, democrático e plural, sem reticências, desconfianças e temores, aos activistas políticos dentro do mesmo campo de afinidades políticas? Em minha opinião, não! Em minha opinião, por uma razão principal: a incapacidade de lidar com a critica. E esse é quanto a mim, um princípio do qual não deve abdicar um partido verdadeiramente democrata.

O militante deve poder exercer, sem constrangimentos, em público ou em privado, a critica como um dos valores absolutamente inquestionáveis no funcionamento de um partido democrático. Um partido que não aceite este princípio é um partido-coutada de alguns senhores. É um partido fechado à sociedade e ao activismo partidário. Um partido de “alma” intrinsecamente democrata, não deve nunca se perturbar, com a exposição pública de divergências.

Quantos partidos existem com esta “alma”? Que partido aceita com respeito, naturalidade e tranquilidade a diferença de opiniões no grupo? Nenhum. Nos estatutos alguns, mas na prática, apenas vão tolerando desde que não provoque “danos”. Tentando ser claro: uma coisa é a lealdade e a responsabilidade política, num quadro de defesa de um projecto político, outra bem diferente é tentar silenciar as posições críticas de quem entende ser adequado tornar publica uma diferença de opinião, invocando falsos unanimismos.

A crítica deve ser aceite como regra do jogo democrático. Sem sobressaltos. Não consigo vislumbrar uma situação onde a intervenção do colectivo partidário poderá se sobrepor à livre expressão de um pensamento ou de uma crítica. Uma crítica bem arrumada no plano político e ético pode incomodar, ser injusta, mesmo desagradável, mas renegar este valor fundamental da democracia é impróprio de um partido democrático. No dia em que os partidos (os militantes) souberem conviver pacificamente com estes aspectos, teremos sem dúvidas uma democracia melhor.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Devaneios em dia dos namorados

Os lábios apertavam com vigor o membro duro. A língua dela desenhava uns belos e harmoniosos movimentos geométricos, numa dança sensual de cobiçada cumplicidade. E o pénis hesitava entre acompanhar o saracotear da língua e entrar no bailado ou espraiar-se egoísta, a acompanhar tão bela e lasciva demonstração de amor.

Ela lambia o seu sexo degustando seu cheiro, o paladar, e a sua língua percorria todo o canal ejaculador firme e cheio em movimentos desregrados, por onde haveria de passar o líquido cremoso, deleitoso, que seria oferecido à sua companheira, vertido na mais bela salva, para ser sorvido, ate saciar a sua sede do prazer e da paixão.

Os movimentos dos corpos eram consistentes. Na cama já, estendidos, seus corpos se entregavam à volúpia desmedida e descontrolada. Os beijos sucediam-se, as línguas confundiam-se, as salivas misturavam-se, num dois em um, em cadência e resplendor. Nada os poderia fazer parar. Ela e ele não viam mais, não sentiam mais nada, o tecto podia cair, a casa desabar, um tsunami de desejo e sensualidade estava a acontecer naquele preciso momento. A chama estava ateada. Ninguém poderia prever a dimensão e as consequências daquele fogo.

Ela tomou de novo seu sexo. Sentiu que ele estava muito perto do orgasmo. Agarrou-o com vontade, passou-lhe a língua pela glande, introduziu-o na boca e em movimentos mais acelerados, em vaivém, sentiu, na quentura do seu membro e nos gemidos incontroláveis que a “combustão” estava demasiado próxima. Antes do tempo desejado. Não demorou um minuto sequer. Um jacto de prazer e de paixão afogou-se na sua boca. Os olhos dele reviraram-se. Não via nada. Sentia-se nas nuvens. Ela, por seu lado, não desperdiçou peva. Engoliu tudo até à última gota e lambeu o seu sexo com doçura, lavando-o em saliva. Com prazer e com muito amor. Acabaram por adormecer, extasiados. Sem contar.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Ilusionistas crónicos


Se não dissesse que não me faz espécie a relação homossexual estaria a ser mentiroso. Faz-me confusão, sim. É uma questão de educação, de cultura e de preconceito, pois claro. Mas não mais do que isso. Faz-me confusão apenas. Como me faz confusão ver alguém cuspir para o chão, por exemplo. De resto, não apenas compreendo e respeito a orientação sexual de cada um, como defendo para os homossexuais os mesmos direitos públicos que para os heterossexuais, em todos os planos: no direito ao casamento civil, no reconhecimento das uniões de facto, no direito à adopção. Pelas liberdades, contra as discriminações.
Dizer que não é o tempo, nem são as prioridades do país, são desculpas esfarrapadas que escondem o preconceito, conveniências políticas e partidárias ou fundamentalismos religiosos.

Mas para acabar com as discriminações é sempre tempo, para além das conveniências. E Sócrates teve um tempo e uma oportunidade única: ter votado os projectos do Bloco de Esquerda e dos Verdes ainda nesta legislatura, quando tinha (e tem ainda) a maioria absoluta.

Ao ser apresentada agora, para debate interno (como proposta eleitoral), só pode ser considerada como uma forma de desviar as atenções dos temas que preocupam os portugueses: a crise económica e ameaça de desemprego em grande escala e todas umas políticas económicas e sociais de ataque aos mais desprotegidos e de favorecimento dos senhores do dinheiro, mas também a situação em que está envolvido com a justiça, nomeadamente o caso Freeport. Naturalmente isto revela muito do seu carácter hipócrita.

Mas o festim da hipocrisia não podia deixar de fora a Igreja e o aparelho do PS. Ambos estão contra o casamento dos homossexuais. Os primeiros por fundamentalismo doutrinário os segundos com receios de perder votos e poder. Uns e outros, curiosamente, calaram-se sobre as políticas do Governo que provocaram perdas de direitos, precariedade, despedimentos. Estamos entendidos.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Os ricos que paguem a crise ou as novas mentiras de Sócrates

Sócrates tem as prioridades bem definidas. Para combater o défice público não teve dúvidas por onde começar: os trabalhadores, esses privilegiados. Retirando direitos sociais e laborais, congelando vencimentos, aumentando a idade e os valores da reforma, precarizando mais o emprego. Mas também as populações mais pobres do interior, fechando urgências e maternidades e as classe médias com o aumento dos impostos. Agora, lembrou-se dos ricos. Só agora. E creio que fazendo grandes confusões sobre o conceito de rico. Os possuidores de grandes fortunas, por exemplo, não devem ser ricos. Mas atenção! Sócrates, como se encarregou de esclarecer o ministro das Finanças, fez esta propostas na condição de candidato à liderança do PS e será, quando muito, uma promessa eleitoral. E quanto a promessas de Sócrates estamos conversados. Sócrates é um grande mentiroso! Não cumpre promessas.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Joana Amaral Dias

Joana Amaral Dias não integra a nova Mesa Nacional do Bloco. Parece-me mal. Segundo os seus dirigentes, o seu afastamento deve-se a uma pouca assiduidade nas reuniões da anterior Mesa. Tenho sérias dúvidas se essas são as verdadeiras razões. A verdade é que o Bloco não conviveu bem com o seu apoio a Mário Soares nas presidenciais. E parece não conviver bem por ela se apresentar bonita, cuidada, e ter uma presença mais constante em certa imprensa. Estou convencido que se não fosse a circunstância de poder parecer um saneamento político, Joana já não teria pertencido à anterior Mesa. Alguns militantes aliás não se escusaram de em plena Convenção de pedir a sua cabeça. Fazem mal os dirigentes do Bloco. Para todos os efeitos Joana Amaral Dias é uma figura nacional e importante na história do Bloco. E mais do que isso: em todos os sítios sempre a vimos a defender, como poucos, as posições centrais do Bloco sem quaisquer equívocos. Joana faz falta. Prefiro uma Joana a faltar a reuniões de que outros, muito activistas, mas completamente fúteis e ávidos de lugares.

(imagem retirada daqui)

sábado, 7 de fevereiro de 2009

A VI Convenção do Bloco

A VI Convenção do Bloco de Esquerda decorre neste fim-de-semana. Pela primeira vez, creio, não estarei presente na reunião magna dos aderentes do Bloco. Com alguma tristeza, confesso. Mas a vida tem destas coisas. Muito embora continue a apoiar o projecto do Bloco e me reveja na maioria das suas posições e propostas políticas, não obstante, encontrei algumas pequenas divergências que, sendo normais e naturais num projecto em construção, embicaram com a minha personalidade e me levaram de forma decisiva, ao fim deste tempo todo, a abandonar a militância partidária, militância aliás que tinha prometido não mais ter, quando a meio dos anos 80, deixei a UDP.
O Bloco tem agora dez anos. A sua criação, no tempo, agrupando algumas das forças políticas de esquerda e alguns independentes, tão diferentes e tão distantes politicamente e com um passado assinalado por grandes divisões, sectarismos, espírito clubista e muito prisioneiros de conceitos e doutrinas políticas, interpretadas de forma dogmática e vanguardista, de tão improvável, afigurava-se a todos os comentadores políticos, um processo condenado à partida.

Contudo, quem acompanhou o projecto fundador sabia que este era o projecto mais consistente, mais abrangente, o mais sério, mais ousado e interessante, alguma vez abraçado por qualquer força política da esquerda:
Um projecto de recomposição de todo o espaço de esquerda anti-capitalista, num processo paciente de desconstrução barra construção ideológica, sem amarras, sem preconceitos ideológicos, sem tabus, mas simultaneamente virado para fora, para os problemas concretos das pessoas, para no confronto das ideias, conquistar a maioria social e fazer vingar propostas políticas inovadoras e fracturantes, em contraste com as velhas receitas da esquerda, como a transparência, a exigência cívica, o direito das minorias, o combate às desigualdades e discriminações.
Neste dez anos mudou muita coisa. O Bloco cresceu imenso. As pessoas reconheceram no Bloco uma força de combate, intransigente com as artimanhas, as falsidades, as manobras golpistas e simultaneamente, um partido com ideias e propostas atraentes, adequadas, consequentes. Com o aumento do número de deputados, com mais meios financeiros, um corpo maior de assessores e especialistas, a prestação do Bloco, especialmente no parlamento, ganhou qualidade, dimensão e acuidade, nas propostas políticas e na oposição ao Governo Sócrates, constituindo-se como a oposição mais eficaz, mais competente e a que verdadeiramente enerva o Governo e Sócrates.

Os novos tempos exigem agora novas e adequadas intervenções. O Bloco está numa espécie de encruzilhada. O crescimento e as expectativas são altos. Saber como responder aos novos apelos é o desafio. O de ser mais que uma boa oposição. O de ser mais que contra-poder. O eleitorado parece querer dar-lhe um papel chave no futuro próximo da governação, retirando a maioria ao PS e aumentando a sua representação parlamentar. O Bloco nestas circunstâncias tem de ser muito claro: ou viabiliza uma solução PS/BE no Governo ou no Parlamento ou se afirma novamente como uma oposição consequente e responsável. A palavra parece estar dada: é a segunda alternativa. Pela simples razão de que não é possível estar com Sócrates e com tudo o que ele representa, em termos políticos e pessoais, mas sobretudo de alternativa do modelo de sociedade ao nível económico e social.

Cabe ao Bloco continuar a trilhar o projecto fundador, agora com mais vigor e exigência consigo próprios: avançar com o projecto de recomposição orgânica das esquerdas anti-capitalistas, acelerar os processos de convergências concretas à esquerda (sem exclusões e com todos os interessados), continuar o combate político ideológico contra a supostas inevitabilidade das políticas neoliberais, aprofundar o debate político e ideológico à esquerda, sem complexos e sem tabus.

O tempo não está para divisionismos e para discussões estéreis. O tempo é de reunir forças: para afirmar uma alternativa de esquerda seria e credível e para disputar o poder. Não temos de estar condenados ao centrão político e de interesses.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Governo pretende usar ilegalmente o Fundo de Garantia Salarial dos trabalhadores para fins diferentes

O Governo quer que sejam os dinheiros da Segurança Social, através do Fundo de Garantia Social, a pagar os salários dos trabalhadores alvos de despedimentos ilícitos e cujos processos se arrastem nos tribunais há mais de um ano. Esta situação é verdadeiramente insólita: a) porque o dinheiro do Fundo é exclusivamente dos trabalhadores (financiados pelas contribuições patronais para a Segurança Social) e destinado a acorrer exclusivamente a trabalhadores com salários em atraso, em empresas em dificuldade económica b) porque o Governo não pode usar dinheiro que não é dele, nem sequer do Estado, para fins diferentes c) porque estava prometido que viria do orçamento de Estado d) porque beneficia o infractor, as empresas que cometem esses ilícitos. Infelizmente deste Governo espera-se tudo, até buscar dinheiro que não lhe pertence.

O caso BPN. O buraco financeiro cresce à medida que se escarafuncha um pouco mais

Uma auditoria às contas do BPN revelou um buraco de 1800 milhões de euros (no inicio falava-se em 800 milhões), devido à sobrevalorização dos activos. Esta fraude que nunca foi(?) descoberta pelos auditores da BDO Binder que certificava as contas, foi agora desvendada pela Deloitte no apuramento das paridades.

É mais um capítulo vergonhoso desta triste história: uma instituição financeira fraudulenta durante anos, BPN, um (só) Administrador acusado, Oliveira e Costa, uma auditora financeira, BPO, que não conseguiu ver o que estava à vista desarmada, fraudes atrás de fraudes, uma supervisão, Banco de Portugal, muita distraída que não supervisiona, um Governo que nacionalizou sem cuidar de saber a dimensão do buraco financeiro. Ainda agora a procissão vai no adro e já se adivinha que a coisa não vai ficar por aqui.

Entretanto o Governo, através do Ministro das Finanças, quer-nos fazer crer que os contribuintes não vão suportar os custos destas trafulhices, da nacionalização e da recuperação do BPN (e do BPP). Confesso a minha perplexidade. Não sendo os contribuintes serão quem? A nacionalização tem custos, tem buracos financeiros, o BPN vale pouco. Quem vai pagar isto? O justo seria que fossem os ex-administradores responsáveis e os accionistas e até em parte os depositantes, porque não? mas não, o Governo já lhes deu garantias de que isso não sucederia. Por seu lado, os contribuintes, já estão a pagar, que é o que acontece, quando há fuga e fraude fiscal e não entram os dinheiros devidos nos cofres do Estado. Ou não será assim?

Um pouco de vergonha na cara ficava-lhes bem.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A Convenção do Bloco e "doutrinas" que persistem

Umas das coisas que me chateia nos partidos políticos são as orientações políticas, enquanto regras que vinculam toda uma organização partidária, mesmo quando são tomadas pelo órgão máximo do partido. No meu entendimento, numa organização política, não deve haver decisões que obriguem os seus membros de forma definitiva. O congresso decide a estratégia, decide as linhas programáticas gerais, os princípios políticos, dá indicações políticas, apresenta uma carta de compromissos com os eleitores. Este é um princípio político que defendo há muito tempo. Avesso a controlismos e a regras mais ou menos rígidas, defendo o princípio da responsabilização política nas organizações, a confiança nas estruturas locais, em vez da imposição de directrizes políticas.

Vem isto a propósito da próxima convenção do Bloco. E refiro-me ao Bloco porque, em minha opinião apesar de todas as minhas divergências, é um partido em construção e portador de um projecto político (com problemas, contradições, dificuldades, oportunismos também) que pretende reabilitar a política e reconfigurar o espaço político em que me situo. E apenas para sublinhar este aspecto: todas as três moções padecem do mal que cito acima. Em todas elas se evidenciam esses traços vanguardistas e centralistas; querer determinar de forma vinculativa as escolhas políticas, em particular, onde essas escolhas deveriam caber aos órgãos locais, as eleições autárquicas: que conhecem as realidade, as pessoas, os interesses, os projectos pessoais e políticos dos candidatos. A moção A, da direcção, quer impor que não há alianças. As moções B e C querem impor que devia haver coligações com outras forças de esquerda. Nenhuma delas se lembrou ou lembra de dar essa autonomia e responsabilidade às organizações locais que conhecem melhor que ninguém a realidade concreta.

Dou um exemplo pessoal, de quando ainda era militante, e de como estas posições são nefastas e não credibilizam as organizações, junto dos cidadãos, nem fazem a diferença entre partidos. As duas freguesias da minha cidade eram geridas pela CDU. Uma tinha obra feita e um presidente sério e empenhado. A outra não. Numa reunião propus, sem muita convicção por estar preso a decisões centrais, o apoio à candidatura da CDU na freguesia onde havia um bom trabalho. Baseado em duas razões: porque aquela candidatura merecia de facto ser reeleita e tinha o apoio popular, como se veio a confirmar. Mas também por razões tácticas. Porque apoiando uma candidatura se estavam a dar sinais claros de seriedade política (apoiando quem merecia sem tricas partidárias) e ao mesmo tempo a dizer que a outra candidatura da CDU não merecia o mesmo apoio (A CDU acabou por perder esta freguesia). Todos os presentes ficaram surpreendidos com a proposta mas curiosamente concordantes. Mas ficou por ali, claro.

Leio agora que na Covilhã o “coordenador” local (curioso que esta figura de coordenador não existe nos estatutos, mas plos vistos é assumida por todos) defende o apoio à recandidatura do Presidente da Câmara do Fundão do PS ao contrário da deputada municipal. Não conheço a situação. O que sei é que esta discussão nem sequer pode ter lugar porque todas as listas são centralistas e vanguardistas.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Greves xenófobas. E como sindicatos de classe e corporativistas podem ser reaccionários

A greve de trabalhadores ingleses contra a contratação de trabalhadores estrangeiros, é uma manifestação de xenofobia, retrógrada e desonrosa para os trabalhadores e para sindicatos ingleses envolvidos, qualquer que seja a razão aparente ou verdadeira. Estas greves são um grande retrocesso na cultura política, na percepção dos direitos, nas conquistas civilizacionais. A ninguém pode ser negado o direito de procurar o seu lugar, o seu modo de vida, a sua felicidade, onde e como quiser, sem constrangimentos, acondicionamentos, em qualquer parte do mundo, respeitando iguais direitos dos outros, no mesmo plano de igualdade, não se sujeitando a destinos delineados por outros.

O direito ao trabalho, como outros direitos, não tem nacionalidade. Os trabalhadores ingleses estão a ver mal o problema. A incerteza do emprego, a insegurança profissional e social, um quotidiano intenso e stressante, um presente e um futuro incerto, são motivos suficientes para demonstrar a nossa indignação e protesto. Mas o alvo não pode ser os iguais a nós ou pior do que nós. Os que sofrem os mesmos dramas. Horrorosos, dolorosos, terroristas.

O que eu compreenderia é que os trabalhadores exigem-se para esses seus colegas contratados, condições de salário justas, condições de trabalho dignas, cargas de trabalho adequadas, horários de trabalho consentâneos. Em defesa dos direitos universais dos trabalhadores, em solidariedade com os outros trabalhadores e para impedir concorrências desleais e desiguais.

O direito ao pleno emprego deve ser parte integrante de uma luta diária, permanente, insistente, exigente, contra este modelos das sociedades capitalistas, cuja marca principal, a impressão digital, são as injustiças sociais, a desigualdade de oportunidades, as grandes diferenças económicas e sociais.

Estas manifestações e protestos são muito perigosos no actual contexto de crise económica. Consciente ou inconscientemente, prestam um serviço ao reaccionarismo primário, são um retrocesso político e social, favorece o surgimento das forças do passado, racista, fascista e xenófobo. A participação dos Sindicatos nestas movimentações, a liderar ou a reboque dos acontecimentos, dizem-nos muito do tipo corporativista do sindicalismo, dito de classe, mas não de luta de classes.
 

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