domingo, 31 de maio de 2009

Querer votar Bloco nas Europeias e não poder ...com muita pena e frustação

No dia 7 de Junho não vou estar em Portugal e não vou por isso votar nas Europeias.

De Marcha despenalização aborto - Viana do Castelo

Com muita pena. Ao contrário de muitas pessoas penso que votar é muito importante para marcar uma posição de protesto. Se protestamos nas ruas e nas empresas, protestemos também no momento de voto. Protestar é muito importante. É um sinal de não resignação. De não conformismo. De luta.

Este é pois o meu primeiro apelo: Ir ao voto contra quem, na Europa e em Portugal, representam as políticas que nos atiraram para a crise. Em Portugal significa não votar no PS, no PSD ou no CDS. Quem nos meteu na crise não nos vai tirar dela. Quando muito levar-nos-à para outras.

O segundo apelo é mais de ordem das convicções políticas. O Bloco de Esquerda é o mais interessante projecto político dos últimos anos no campo das esquerdas. Um projecto de unificação das esquerdas plurais anti-capitalistas que não se esgota nele próprio. O Bloco não é um fim. Não é o partido das esquerdas. Mas é o mais sólido projecto para tornar a esquerda grande. Grande e de alternativa aos poderes dos grupos de interesses na órbita do Bloco Central. O Bloco tem projecto, tem políticas, tem dirigentes à altura para, com humildade, modéstia, respeito pelas diferenças (e sabemos que não tem sido sempre assim), ser a alavanca de um projecto de reunificação das esquerdas, para dar a volta a isto. Assim o continuem a querer (e continuam a existir muitos equívocos), em harmonia com o seu projecto fundador. Assim também, as outras esquerdas, organizadas em partidos, movimentos ou como independentes, se deixem de obstinadas desconfianças, de estarem prisioneiros de ortodoxias ideológicas, de sectarismos ou permanentes espíritos de contra-poder.

O terceiro desejo era de que gostaria de ver o Bloco de Esquerda eleger pelo menos dois deputados, se possível três elegendo também Rui Tavares. Mais do que qualquer outra é a visão sobre a questão europeia que mais me afasta dos outros partidos da esquerda concorrentes. Miguel Portas merece-me toda a consideração pessoal e respeito político. O seu trabalho anterior é merecedor de todos os encómios. Se não conhecesse o seu trabalho e conheço, o seu compromisso eleitoral (e a qualidade do trabalho não se mede pelo número de perguntas, relatórios, propostas apresentadas -o importante é seu efeito prático), bastaria-me ver o reconhecimento do Dr. Fernando Nobre, presidente da AMI -Assistência Médica Internacional (cujo trabalho em todo o mundo contra a fome e as injustiças dispensaria apresentação), para validar e creditar todo o seu trabalho no parlamento europeu.

Com muita pena mesmo não vou estar em Portugal, como disse. Quase imperdoável se pensar que vou estar de férias. Mas a verdade é que estas já não podiam ser adiadas. Outros valores se levantaram. Volto no dia 8 de Junho da Tunísia. Até lá!

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Os abutres nunca estão saciados. Nunca.

Estava para escrever sobre isto. Reparo entretanto que o meu caro amigo e camarada do Ribeiro da Fonte diz bem melhor do que eu o que eu poderia vir a dizer. Recomendo pois a sua leitura.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Fome

Em 2008, os quinze Bancos Alimentares contra a Fome em Portugal distribuíram 17.500 toneladas de alimentos (num valor estimado de 26,2 milhões de euros) a mais de 1.600 instituições de solidariedade social, que reencaminharam estes donativos a 250 mil pessoas comprovadamente carenciadas. Entre elas, a presidente da organização, Isabel Jonet, destaca o milhão de idosos que vive com cerca de 300 euros por mês. Mais palavras para quê? Este fim-de-semana há uma campanha de recolha.

(do Jornal OJE de 27 de Maio de 2009)

Sim! Mais palavras para quê? Isto diz tudo sobre a sociedade que andamos a construir. Uma corja os nossos líderes!

terça-feira, 26 de maio de 2009

Entretém-te filho eu estou aqui para tratar da Tua vida

Vital Moreira propôs a criação de um imposto europeu. Mas não explica que tipo de imposto. Sobre quem e para quê. Diz-nos que quando estiver no parlamento europeu logo saberemos. Depois de ser eleito saberemos, diz ele. Depois não antes. Muito estranha esta concepção de democracia. A democracia do cheque em branco. Nós, povo estúpido, não precisamos de conhecer a sua proposta, se calhar não a compreenderíamos. É um pouco como o referendo ao Tratado de Lisboa. Era muito complicado. Nós não estamos à altura para percebermos estas coisas. A política não é para o povo. Vital quer o nosso voto. Pede-nos que confiemos, sem mais. Se calhar é capaz de ter razão. Assim como assim já estamos habituados a que não cumprem o que prometem. O que escrevem nos seus programas eleitorais. A palavra deixou de ter valor. Os compromissos não valem um chavo. Vital pede o que nenhum democrata a sério, deveria pedir: o cheque em branco.

Vital pede-nos que não nos preocupemos que ele está lá para tratar dos nossos problemas. Estão lá todos para resolver os nossos problemas, não é assim, José Mário? Entretenhamos-nos então. Fiquem com o FMI! Entretém-te filho.

domingo, 24 de maio de 2009

Parabéns ao PCP

 
(imagem dorl.pcp)

O PCP saiu à rua numa demonstração de impressionante capacidade de mobilização e de crença dos militantes e simpatizantes nos seus ideais políticos. Eu que tenho com o PCP, de sempre, uma relação de "amor-ódio" não posso, neste momento, deixar de dar os meus parabéns por esta iniciativa, significativa de que o PCP está bem vivo. Sem nenhuma dúvida o PCP é absolutamente necessário em qualquer processo de convergências das esquerdas. Tem é que deixar de pensar que são a esquerda e o resto é paisagem. Sem sectarismo, sem tentações de liderança e vanguardismos, a esquerda pode ser grande. Independentemente do meu voto já estar definido há muito no Bloco de Esquerda, desejo sinceramente um reforço eleitoral do PCP em número de deputados, como de resto ao Bloco, para acabar com as maiorias absolutas. Desde já com a do PS.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Ainda sobre a Autoeuropa

Belmiro de Azevedo critica os trabalhadores da Autoeuropa de não aceitarem a mobilidade e a flexibilidade laboral. Mente contudo Belmiro de Azevedo. Se há quem aceitou a aplicação desses princípios, em situações que assim o exigiram (e que no passado foram elogiadas e apresentadas como exemplos de cooperação e de encontro de soluções realistas), pensando não apenas nos seus próprios interesses, mas também nos da empresa, na importância da Autoeuropa na economia nacional (é responsável por 10% das exportações nacionais) e ainda no impacto no emprego e na economia local (estão em causas milhares de empregos e dezenas de empresas que fazem trabalho subsidiário para a Autoeuropa), foram os trabalhadores da Autoeuropa.

Ainda assim os trabalhadores, ao contrário do que diz Belmiro, não se recusam a trabalhar ao Sábado (em períodos de maiores picos de trabalho e para compensar os dias não trabalhados - a empresa propõem uma semana de 4 dias de trabalho com o 5º dia a entrar na bolsa de horas). O que não querem é que um trabalho ao Sábado, seja pago como um dia de trabalho normal. E mais ainda. Numa atitude de grande compreensão e responsabilidade aceitam a partilha deste trabalho extraordinário; recebendo apenas metade com o restante entrar na contabilidade da bolsa de horas.

Querer que os trabalhadores sejam os únicos a pagar as dificuldades é próprio de mentalidades retrógradas e de pessoas que não respeitam a dignidade dos trabalhadores. Querer que os trabalhadores aceitem tudo sem resistir é não perceber que apenas com a luta se consegue defender e conquistar direitos, cuidando de saber quando é necessário recuar.

Já sobre o ministro da Economia, Manuel Pinho, pouco haverá a acrescentar ao que tem sido dito pela generalidade dos comentadores: é talvez o ministro mais incompetente e um "vendido" aos interesses do patrões e da finança. Falar em falta de competividade, em produtividade, quando todos os indicadores indicam ser a Autoeuropa e os trabalhadores, dos maiores exemplos de competência, conhecimentos, produtividade é próprio de quem não sabe o que diz e que está de cócoras perante as multinacionais.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Autoeuropa: os trabalhadores e o emprego antes de tudo


As negociações na Autoeuropa estão hoje mais difíceis que no passado. A crise na indústria automóvel está à vista de todos. Vendem-se menos unidades. Haverá muitas razões que podem explicar isso, mas de todas, o abaixamento do poder de compra, muito sentido após a adesão à moeda única, explicam, em Portugal, a fatia maior na diminuição das vendas . Hoje a troca de carro é mais tardia e os jovens mostram grandes dificuldades em ter o seu primeiro carro (como a sua primeira casa, o primeiro emprego, etc. ).

No passado recente os acordos na Autoeuropa mereceram elogios e reparos: a) elogios pela actuação competentes dos dirigentes da CT nas negociações, sabendo conciliar firmeza na defesa dos direitos dos trabalhadores e elasticidade negocial na procura de soluções, assegurando sempre que a um recuo se seguiria um avanço em “dobro”, sempre que as condições económica-financeiras da empresa desse mostras de melhoria, como veio algumas vezes a acontecer. B) reparos, ou melhor dito ataque soezes dos que vêem o sindicalismo apenas como um instrumento de combate político-partidário e não como meio de defesa dos superiores interesses dos trabalhadores e dos seus direitos (como bem perceberam os trabalhadores que em plenários aprovaram sempre e por larguíssima maioria os acordos celebrados). Viu-se o que deram estas intransigências na OPEL da Azambuja: deslocalização da empresa e trabalhadores para o desemprego. Por fim, ainda, alguns empresários sem escrúpulos que deturpando o acordo apenas se referiam à flexibilidade negocial, escondendo as garantias e os direitos subsidiários conseguidos.

Não, por acaso, a Autoeuropa tem-se aguentado, não tem havido despedimentos, os trabalhadores continuam a ganhar acima da tabela, os trabalhadores não têm perdido direitos mas apenas trocado ou suspenso. Agora os dirigentes e os trabalhadores, na renegociação de um novo acordo, deparam-se com uma intransigência inesperada e forte da administração, parecendo difícil encontrar soluções de consenso, em que as partes possam ceder, sem colocar em causa a perda de empregos, a deslocalização da fábrica ou a perda de direitos de forma definitiva, isto apesar dos apoios do Estado concedidos à indústria automóvel.

A CT de trabalhadores enfrenta um novo teste. E qualquer que seja a decisão será, agora redobradamente, motivo de criticas. Um acordo com a empresa, nas condições pretendidas pela administração será entendido como uma cedência, uma capitulação. Uma atitude de total irredutibilidade, poderá colocar em causa alguns postos de trabalho, ou mesmo a deslocação da produção para a Alemanha e o despedimento colectivo. Em última análise é toda uma economia de uma região que está em causa. Dezenas de empresas que sobrevivem à custa da Autoeuropa, milhares de trabalhadores a correrem riscos de desemprego.

Há quem já esteja de dentes afiados. A célula do PCP está à espera de lançar o ataque seja qual seja a decisão e mesmo que esta tenha o apoio dos trabalhadores. Aos dirigentes, agora como no passado, exige-se inteligência, criatividade. Ser firme mas pesar todas as consequências, não arrastando os trabalhadores para becos sem saída, irremediáveis. Não queria estar na pele dos dirigentes da Comissão de Trabalhadores. Em última análise caberá aos trabalhadores decidirem. Não desistindo de lutar mas cuidando de não esticar a corda até rebentar.

Como já tive de dizer num anterior post: a crise veio mostrar como o capitalismo é ganancioso e selvagem. Em tempo de vacas gordas enchem-se à vontade e à larga não partilhando com os trabalhadores a criação da riqueza. Nas dificuldades os trabalhadores são tratados como cães vadios. Aos primeiros sinais, fazem verter sobre os trabalhadores a crise, despedem, fecham as empresas. Não aceitam a diminuição dos lucros. Uns tempos de prejuízos depois de anos e anos de intensos lucros. A diminuição dos tempos de trabalho, os lay-off’s, são ganhar tempo, para esconder o despedimento colectivo que vem logo a seguir. Os trabalhadores que sabem o que significa o drama do desemprego, não se esquivariam nunca a ceder temporariamente direitos, salários, se a crise existir de facto e perfeitamente demonstrada.

O problema é o capitalismo predador.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

E Alegre se fez triste.

Alegre decidiu não entrar nas listas para deputados do PS.

Fica por saber se, para ter mãos-livre para criticar, sem constrangimentos, as políticas mais à direita de Sócrates, ou se, para garantir o apoio do PS à sua candidatura nas próximas eleições presidenciais, oferecer como contrapartida, uma gestão criteriosa dos silêncios e das palavras, para não fazer mossa suficiente ao PS, e por outro, transmitir uma ideia de independência, visando captar apoios noutros sectores de esquerda, particularmente independentes e do Bloco de Esquerda.

Seja qual for a razão, Manuel Alegre nunca será (nunca seria) o meu Presidente.

Se Manuel Alegre fosse uma pessoa consequente, deveria ter deixado o PS e fundado outro e liderado um processo de convergências à esquerda, sendo que o passo imediato seria uma coligação eleitoral com, pelo menos, o Bloco de Esquerda. Um processo que pela sua dinâmica poderia alargar de forma significativa o campo da esquerda e das alternativas de poder.

Manuel Alegre, com esta decisão não deixou de ser fiel a si próprio. Uma pessoa insegura, indecisa, sem capacidade de liderança, sem estratégia, movido principalmente, pela sua vaidade pessoal e por alguns problemas de consciência de uma esquerda burguesa.

domingo, 10 de maio de 2009

Liberdades sem medos!


Porque nuca usei o anonimato nem me escondi atrás de um qualquer "nickname" para esconder a minha identidade. Porque a minha fotografia, o meu nome, a minha "vida" estão expostas em todos os momentos de todos os blogues por onde passei, desde há cinco anos. Porque não inventei "invasões" da minha conta para me livrar de acusações. Porque dar a cara, parece-me ser uma prova de seriedade e hombridade ...levo com as consequências.

Esta segunda-feira vou ser julgado por um crime de difamação. Em consciência sei que não tive intenção de ofender ninguém e tenho a plena convicção que o que escrevi, mesmo não tendo a intenção, não se inscreve no crime de difamação. Mas também sei que entre a difamação e a liberdade de expressão, pode estar uma linha muito ténue.

O que escrevi e transcrevi inscreve-se numa linha de cidadania activa, exigente mas responsável, mesmo que às vezes, as palavras escritas, possam nem sempre corresponder, inteiramente, ao que pretendemos dizer. Como disse atrás, penso que nem sequer foi o caso. O que disse e transcrevi, foi um alerta para determinadas situações que configuravam um problema para a saúde pública ... "tomando como verdadeiro o documento [o documento que me chegou à mãos e que transcrevi]".

Parece-me a mim (e na verdade foi essa a intenção, embora a intenção para estas coisas nada contem, pelos vistos) que a frase "tomando como verdadeiro" caracteriza o domínio da opinião. Isto é; eu não divulguei o relatório sem mais. Divulguei-o com uma reserva de cautela. Eu não estava a dizer que era verdadeiro. Quando muito poderia ser interpretado como estando a dizer que eu o tomava como verdadeiro; que em minha opinião poderia ser verdadeiro. Mas nem isso: o que queria dizer (e a frase está construída no condicional), era a de que "a ser verdadeiro", se "se tomar como verdadeiro". Ora isto altera tudo. E nesta distinção está a diferença entre a difamação e um acto de cidadania responsável.

Creio que um crime de difamação não dá direito a prisão, mas dá certamente lugar a multa, custos do processo e direito a indemnização. E sinceramente não estou nada virada para isso. Porque não tenho dinheiro e porque seria um acto de extrema injustiça. Antes a prisão.

Alguém o terá dito que o exercício da cidadania é a história dos direitos humanos. Que o progresso, os direitos, a democracia não existiriam, sem uma cidadania activa e exigente. Que o exercício de uma cidadania de rigor, exigência e de transparência envolve a compreensão e a consciência dos direito públicos e dos deveres e responsabilidades. Mas o que sobretudo não pode pesar sobre cada um de nós é o medo. O medo de saber que sobre cada um de nós pode pender a mensagem terrível de que "eles" estão por aí.

Liberdade sem medos!

sábado, 9 de maio de 2009

Os gastos nas campanhas e o financiamento dos partidos

Sou dos que acham que se gasta demasiado dinheiro, muito dinheiro mesmo, nas campanhas eleitorais. Pensar que só para as eleições europeias os 5 principais partidos, no seu conjunto, admitem poder gastar mais de 6 milhões de euros é ultrajante, obsceno, imoral. E ainda temos pela frente, este ano, mais duas eleições.

Tenho escrito que o modelo de campanha e de esclarecimento das propostas políticas devia passar por menos papel e mais debate sobre as alternativas. Que em vez de grandes e pequenos outdoors, cartazes, pendões, aventais e esferográficas, que nada esclarecem, poluem o espaço visual, são apenas propaganda, se deveria alterar o paradigma, investindo em debates cruzados, entrevistas, sessões de esclarecimento, promovidos por iniciativa própria ou protocolada, onde tivesse de ser, nas televisões, nas rádios nacionais e locais, nas casas do povo, nas sedes das associações locais, enfim, em todos os espaços físicos com condições mínimas, por todas as cidades e freguesias deste País.

Conexos a isto surgiram as recentes alterações ao financiamento dos partidos. E de imediato se ergueu um coro inflamado de críticas, soltaram-se todas as indignações, os comentários coléricos por tudo o que é sítio: na internet, nas conversas de café e sobretudo nas palavras dos maldizentes do costume, onde quer que se expressem.

Sendo insuspeito, não posso alinhar neste coro. Pelo que tenho lido e ouvido, a maior parte das pessoas que se pronunciaram sobre este assunto, não sabe do que fala, não conhece as alterações produzidas, incluindo, ao que parece, figuras altamente respeitáveis, como João Cravinho, por exemplo.

Eu fui procurar ler quem me inspira confiança, à falta de melhor informação, para tirar as minhas próprias ilações, com a convicção de que quem faz da transparência, do rigor, do combate à corrupção, algumas das suas principais bandeiras, como é o caso do Bloco de Esquerda (e também do PCP), de algum modo estar comprometido com manobras e golpes, sem prejuízo de que por descuido ou uma má avaliação, pudessem ter cometido um grave erro. Não creio que tenha acontecido, lendo o Miguel Portas.

Deixo-vos com o post de Miguel Portas:

O que saiu cá para fora, com a chancela, entre outros, de Marcelo Rebelo de Sousa, foi que os partidos decidiram fazer “regressar as malas de dinheiro vivo”. Verdade?
Comecemos pelo óbvio: será que os partidos são suficientemente loucos para se meterem nessa quando têm 3 eleições à porta? Será que o faria o bloco, uma força que tem direccionado grande parte da sua actividade política para o combate à corrupção? Não parece razoável, pois não?
Então o que se passa na realidade?

1. Há uns anos o parlamento acabou com o “dinheiro vivo” e instaurou o critério do financiamento público dos partidos. O financiamento por empresas foi proibido - e bem; o financiamento por particulares passou a ter que ser feito por movimento bancário e foi limitado a 25 salários mínimos - muito bem. Ambas as medidas se mantêm. Não há qualquer alteração neste domínio, salvo a conversão de salários mínimos em IAS (o indexante de apoio social), o que não altera substancialmente, nem o montante (pelo contrário, baixa-o), nem os critérios.

2. Então porquê o “bruá”? Porque a lei alarga substancialmente o limite para as entradas de “dinheiro vivo” em iniciativas e realizações partidárias, estritamente contra a venda de bens e serviços e até 100 euros por pessoa. Aplica-se um critério similar ao do pagamento de quotas em dinheiro - até 1 IAS.
Errado? Certo. Os partidos de esquerda nunca defenderam o financiamento exclusivo dos partidos pelo Estado porque isso os “funcionaliza”. Sempre defenderam - e bem - que um partido deve realizar iniciativas e promover a recolha de fundos entre os cidadãos - porque disso também vive a democracia.
Uma pessoa vai à festa do Avante! e tem que pagar a sua cervejola com cartão? Tenham juízo os “anti-corruptores”. O bloco organiza um jantar com dois preços - um a 10 euros, outro a 20, de apoio - e todos os convivas têm que pagar de cartão bancário a sua inscrição na mesa dos pagamentos? Por favor…

3. Muito bem, mas à pála das pequenas contribuições não se está a abrir uma “caixa de pandora”? Não, não está. As condições em que este “dinheiro vivo” pode entrar são claras e não vagas. Por outro lado, isto não dispensa os partidos de apresentarem contas das despesas e receitas das iniciativas e a “recolha de fundos com bandeira” continua a ser interdita (não ha contribuições anónimas sem contrapartida em bens e serviços documentados).

4. Não me passa pela cabeça penalizar as forças de esquerda pelas qualidades que têm - de motivação para uma cidadania activa - em nome dos perigos de corrupção nos partidos centrais. Hoje, a fiscalização dos partidos é muito mais severa - e ainda bem. Isso limita a corrupção em favor dos partidos, embora não evite a corrupção dirigida aos seus dirigentes ou autarcas ou, ou… mas isso não é a lei do financiamento dos partidos que resolve, mas o levantamento dos segredo bancário, o registo dos movimentos de capitais e o fim dos paraísos fiscais.

5. Finalmente, a nova lei resolve dois problemas que a anterior criara: as segundas voltas das presidenciais não tinham mecanismo de financiamento previsto; as listas de cidadãos, idem idem, o que as coloca numa posição de concorrência agravada face às listas partidárias (Helena Roseta que o diga…)

Não é a minha lei - porque continua a manter escandalosamente altos os montantes máximos que os partidos podem apresentar nas disputas eleitorais - mas é uma lei que põe fim a uma discriminação indecente e que valoriza a participação dos cidadãos “de baixo” na vida política. 



Ler também Vitor Dias e Rogério Moreira.

domingo, 3 de maio de 2009

SINTTAV- um sindicato-patrão que despede invocando o Código de Trabalho

Nota*: A fotografia que ilustrava este post foi retirada a pedido de um dirigente do SINTTAV. Abaixo pode ler o e-mail do dirigente. Esclareço que foto apresentada pretendeu apenas identificar o sindicato e não fazer qualquer associação dos dirigentes que apareciam na fotografia (foi coisa que nunca me passou pela cabeça e aliás na fotografia estavam muitos outros trabalhadores) com a decisão em apreço, como acredito que perceberam. No entanto não há como deixar tudo claro.

Tendo em vista a "necessidade de proceder à racionalização dos meios humanos com vista à redução de despesas" (...) sem a qual estaria em causa "a própria sobrevivência (...) e "num cenário de dificuldades económico-financeiras (...) informa-se a trabalhadora da "cessação do contrato de trabalho" (...) por "motivo de extinção do posto de trabalho" (...) nos "termos e para os efeitos do art.º 368 do Código de Trabalho".

Pois é! Quem assim procede é um sindicato a despedir uma trabalhadora de limpeza. Um sindicato (SINTTAV - Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Telecomunicações e Audiovisual) que invoca o Código de Trabalho, o mesmo que diz combater, para despedir uma sua trabalhadora. E pasme-se, com o argumento da extinção do posto de trabalho (o único que podia invocar), um argumento falso já se vê; o trabalho de limpeza nunca acaba, mais a mais, quando é a única trabalhadora da limpeza.

A linguagem utilizada é tirada a papel químico da utilizada por qualquer patrão: necessidade de racionalização dos meios humanos, redução de despesas, dificuldades económicas e financeiras, sobrevivência da organização... Mas será mesmo assim?

Assim, à primeira vista, no orçamento para 2009, vejo logo onde podiam ser reduzidas as despesas, por exemplo:

a) nas despesas de representação dos dirigentes, delegados, activistas e sede e nas actividades das coordenadoras: previsto em orçamento - 110 500,00 € (é muito dinheiro! para tão pouco trabalho), através de uma reestruturação do sindicato, adequando as coordenadoras à estrutura das empresas que cobre: ficariam reduzidas a metade, no máximo 6 contra as 12 existentes; Norte, Centro, Sul, Lisboa, Açores e Madeira (e se calhar já são demais face ao trabalho que desenvolvem, digo eu).

b) nas deslocações de dirigentes ao estrangeiro: previsto em orçamento - 10 000 € (uma inutilidade! apenas tem servido para dar uns passeios a Cuba, Bulgária, Luxemburgo e outros países, penso eu.)

c) na produção de publicidade e propaganda: agendas, calendários, posteres, postais e outros: previsto em orçamento - 11 000,00 € (um exagero! essas coisas não servem rigorosamente para nada)

d) nos custos com as filiações sindicais, na CGTP, UNI, Uniões Sindicais: previsto em orçamento - 29 000,00 € (um enormidade! 18 mil para CGTP, 6, 3 mil para as Uniões Sindicais (ou seja para a mesma organização) e para a UNI 4,5 mil para justificar as passeatas. Exigir pagar menos ou desfiliação.

E outras haveria com certeza a considerar, como seja a renegociação da consolidação da dívida. Só em juros suportados/empréstimos bancários o Sindicato tem previstos gastar 36 000,00 € quando dispõem de um património imobiliário (à venda) de centenas de milhares de euros, creio bem.

Depois disto que moral, que crédito, tem o sindicato para contestar qualquer processo de despedimento?

Não está em causa, como disse, a necessidade de controlar as contas, reduzir as despesas, face à diminuição das cotizações sindicais. Não estaria em causa sequer invocar um despedimento, vários despedimentos até, se a situação económica-financeira do sindicato, não permitisse manter os postos de trabalho e sem isso, pusesse em causa a existência do próprio sindicato, o que iria dar ao mesmo! O que está em causa é usar argumentos falsos! É usar os instrumentos e os argumentos (falsos) dos outros para despedir os seus quando critica e combate, quando usado pelos outros.

Assim, não! Isto não é sindicalismo sério. Pela reintegração da Senhora de limpeza!

*e-mail do dirigente

Boa tarde camarada,

Sou um dos dirigentes do SINTTAV, contudo não concordo nem fui consultado quando foi tomada a decisão de enviar uma carta de despedimento à trabalhadora, cujo caso publicas no BLOG.

Fui conhecedor da situação quando tive acesso ao ofício enviado pelo Presidente e posteriormente através da notícia do Público. A minha posição, tal como de outros dirigentes que desconheciam os contornes deste processo, está tomada e será transmitida dentro dos orgãos do sindicato.

Assim sendo, agradeço que seja retirada o mais rapidamente possível a foto com que ilustras a notícia, visto que eu estou nessa foto. Aliás nenhum dos envolvidos no processo está na foto, apenas dirigentes e trabalhadores que nada tiveram a ver com esta situação de despedimento.

Sem mais de momento,

(Rui Beles Vieira)

sábado, 2 de maio de 2009

Entregar trunfos

Como por Viana do Castelo não há manifestações mas apenas umas provas de atletismo e um comício onde tudo se repete e cansa, o meu 1º de Maio deu-se em Ponte de Lima, num bonito concerto de Pedro Barroso no lindo Teatro Diogo Bernardes. Só hoje, por isso, soube dos acontecimentos que envolveram Vital Moreira, na manifestação de Lisboa.

Depois de ter lido, ouvido e visto através das imagens das televisões o que se passou (umas bocas, uns empurrões, uns insultos, pequenas agressões), o que sobra é uma tempestade em algumas garrafas de água. Da parte de uns, muita intolerância, sectarismo, falta de cultura cívica. De outro lado, a tentativa de capitalizar eleitoralmente o sucedido. Bem esteve Carvalho da Silva. Lamentando, condenando, pedindo sinceras desculpas, procurando manter as pontes, mas reduzindo a expressão a um grupo isolado de manifestantes e rejeitando leituras de premeditadas intenções …bem como de tentativas de aproveitamento político.

Mal esteve o PS e Jerónimo de Sousa. O primeiro extrapolando demasiado os factos para capitalizar eleitoralmente. O segundo, refugiando-se em escapatórias lastimáveis de que não teria visto, como quem diz, foi bem feito mas não me comprometam.

Dito isto não quero justificar ninguém. O combate político também é isto. De tudo o que se passou o que lamento mesmo são as agressões. Na verdade, temos todos ainda muito que aprender. E se o desespero pode justificar certas actuações o sectarismo não é uma boa ajuda. O combate político faz-se essencialmente no debate e no confronto de ideias. E a liberdade de opinião é essencial num regime democrático.

Para ganhar a maioria social é preciso confrontar a sociedade com políticas alternativas, confiáveis, coerentes, credíveis. O inimigo dos trabalhadores é o regime capitalista. Derrotar as ideias neoliberais, ganhar a confiança pessoal e política, para novas políticas e criar uma consciência de classe é o caminho para a mudança e a transformação, para uma sociedade verdadeiramente democrática e de justiça social e económica. Vitais, Sócrates, Manelas são ...pouca coisa.
 

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