quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Defender as liberdades (a propósito dos insultos a Miguel Sousa Tavares).

As imagens de alguém a ser insultado e a precisar de protecção policial, por exercer os seus direitos cívicos consagrados na Constituição – a liberdade de discordar e de lutar pelas suas ideias, apresentam-se aos meus olhos, como intoleráveis e reproduções do pior de um tempo, no período revolucionário, que alguma esquerda, deveria ter sabido ultrapassar e que não são justificáveis, numa democracia madura.

As opiniões e as acções dos outros, podem ferir as nossas convicções e mesmo prejudicar os nossos interesses particulares, mas o contrário, também se aplica. Se o direito de cada um a defender os seus interesses, por mesquinhos ou corporativistas que possam parecer, a um ou a outros, é um direito irrenunciável e justificável, já o insulto, a violência física, a intimidação, como forma de vencer o adversário, é inaceitável, se o outro se bate no terreno da luta democrática e do exercício dos seus direitos, liberdades e garantias, conquistadas com o 25 de Abril.

Não me importa nesta nota saber quem tem razão na questão que está subjacente: se o movimento encabeçado por Miguel Sousa Tavares que se insurge contra o alargamento da área dos contentores e contra a permanência de uma infra-estrutura que cobre uma extensão de mais de 1,5 quilómetros, com um muro de contentores com uma altura de 12 a 15 metros que corta a ligação da cidade ao rio e impede uma requalificação do espaço e mais zonas de lazer, como vem sendo reclamado; se os trabalhadores que se julgam ameaçados com a perda do seu posto de trabalho se esta zona fosse requalificada. Não é isso que me importa nesta nota, como disse. Essa é outra discussão. O que me importa destacar aqui e agora, é um sindicato e duas centenas de trabalhadores, não olharem a meios para atingirem os seus fins: ofendendo, insultando, ameaçando a integridade física de quem sobre o assunto tem uma outra visão.

O que me entristece nisto tudo e não posso dizer que seja um exclusivo destes trabalhadores e deste sindicato, é que a defesa dos interesses corporativos (legítimos), possam desculpabilizar manigâncias, atropelos à lei, favorecimentos ilícitos, porque também os beneficiam. É nestas coisas que surgem as minhas principais discordâncias com os sindicatos, os movimentos, os partidos de esquerda e dos trabalhadores: nem sempre as lutas dos trabalhadores ou os trabalhadores individualmente gozam da presunção da razão. A credibilidade das organizações constrói-se muito com o exercício da pedagogia.

E como não tive oportunidade de escrever sobre o assunto, aproveito esta oportunidade para lavrar mais um nojo à colecção, sobre este Governo: precisamente o de alargar a concessão de exploração dos terminais do porto de Lisboa à Liscont/Mota-Engil, do ex-ministro socialista Jorge Coelho, sem mais, sem concurso público, sem respeito pelos concorrentes, sem cumprir os prazos máximos de concessão previstos na lei, sem cuidar de saber dos interesses dos lisboetas. Uma vergonha a juntar a tantas outras.
blog comments powered by Disqus
 

Copyright 2009 All Rights Reserved Revolution Two Lifestyle theme | adquirido e adaptado por in coerências