sábado, 31 de janeiro de 2009

Um novo sindicalismo para os novos tempos

Um artigo de António Chora, coordenador da Comissão de Trabalhadores de Trabalhadores da Auto-Europa, propõe uma nova abordagem sindical em tempos de crise económica e num mundo em permanente transformação. Podendo algumas das ideias ser consideradas, como cedências, são em minha opinião, adequadas quando mudaram, as profissões, os processos de trabalho, os modos de produção, mudaram as indústrias e os negócios, enfim.

Hoje o trabalho está marcado pela precariedade, ameaças de despedimento, o trabalho desregulado, cargas de trabalho intensas, pressão dos resultados, muito associados à polivalência, à flexibilidade, à mobilidade geográfica, a relações de trabalho descompensadas. E se isto já era assim, com uma crise económica a afectar de forma significativa muitas empresas, com dificuldades em colocar no mercado a sua produção ou serviços, os trabalhadores são confrontados com novos e mais delicados problemas, o pior dos quais o espectro do encerramento das empresas e consequentes despedimentos.

Neste novo contexto, exige-se aos sindicalistas, formas de intervenção inteligentes e responsáveis, encarando de frente os novos tempos e as novas exigências profissionais, sem que isso signifique o abdicar dos alicerces dos direitos laborais e muito menos perda de dignidade pessoal e profissional, mas que possa conciliar interesses diferentes, em situações que tem de mesmo de ser, para que o desejado melhor, não venha a tornar-se o pior dos males. Os muitos falados e vilipendiados, especialmente pelo PCP, acordos colectivos na Auto-Europa, são bons exemplos em como, com mestria e inteligência, é possível fazer bons acordos, preservar direitos e negociar contrapartidas futuras, em ambientes económicos difíceis e complexos. O contraste com o sucedido na OPEL da Azambuja é elucidativo: de um lado um sindicalismo focado unicamente nos verdadeiros interesses dos trabalhadores, tem obtido resultados, no outro marcado por agendas e calendários partidários, com formas de luta desajustadas, extemporâneas e inconsequentes, deitaram tudo a perder.

Aproveitando o ensejo deixo-vos uma reflexão minha de sensivelmente há dois anos.

A actividade sindical quase não existe, em Portugal. Uns poucos, muito poucos, trabalhadores, de vez em quando, participam em algumas reuniões, nas cada vez menos reuniões, que os sindicatos promovem. Ainda assim, os que participam, na sua maioria, só lá vão, quando se sentem ameaçados nos seus direitos mais fundamentais. Eu percebo-os. Assoma sobre eles o medo. O medo das represálias, o medo da pressão, o medo de conotação, o medo de não renovarem o contrato, o medo de perder o emprego.

Predomina, igualmente, a ideia de que estas reuniões não adiantam nada, os discursos são palavreado repetido e de circunstância, reiteradamente ouvidos, sem consequências práticas, cantando vitórias inexistentes ou esboçando perigos iminentes, para por fim, fazerem uma declaração de guerra e serem convocados para jogos políticos de encomenda. É assim, tem sido assim. Os sindicatos não vão aos locais de trabalho, não conversam com os trabalhadores, não os percebem, não os ouvem, não entendem os seus problemas e receios. Aparecem para distribuir uns comunicados, muito radicais na linguagem, mas nada eficazes, na explicação dos problemas, na dinamização activa.

É preciso o esclarecimento personalizado, pequenas reuniões, conversa a sós ou em grupo, no local de trabalho, nas pausas, nos gabinetes, nas oficinas, nos grandes espaços físicos, é preciso ir para a rua, fazer comunicados à população, colocar tarjas, recorrer à imprensa, sensibilizar as pessoas para as suas causas. É preciso acabar com as greves, nas vésperas de feriados, nas pontes, no dia dos exames. Hoje ao contrário doutros tempos é preciso estar atento às pessoas, conquistá-las, e não prejudicando-as deliberada e quase ostensivamente, porque até dá um certo jeito pessoal. Não! Isso é ganhar inimigos, é dar argumentos aos populistas. É dar-lhes a oportunidade de denegrir uma luta.

A decisão da luta tem de ser discutida, consensualizada, abrangente. Fazer greve, encontrar novas formas de protesto, mobilizar os jovens e as populações, fazendo convergir descontentamentos, são caminhos a serem encetados. A maioria dos sindicalistas ou estão nos gabinetes sindicais ou nas sedes “ a tempo inteiro”, em viagens ao estrangeiro ou de vez em quando a organizarem uma acção de acordo com a agenda política do partido ou da central sindical a que estão afectos. Por isso certas acções de luta ou algumas comemorações como o primeiro de Maio, não passam de rituais. A maioria dos sindicalistas, dirigentes sindicais, dirigentes das estruturas intermédias, as uniões sindicais, ou dirigentes nacionais, estão desacreditados, institucionalizados, rendidos, acomodados, alguns estarão mesmos “vendidos”. Hoje na sua maioria são uns burocratas para ocasiões festivas, para cumprir papéis partidários. Uma vez ou outra fazem uma ou outra acção conjuntural para mostrarem que existem. E lá estão sempre os mesmos: Os dirigentes de sempre, os delegados sindicais de sempre, os funcionários do partido de sempre, e os trabalhadores, carne para canhão de sempre. E os ingénuos de sempre. É esta a mobilização que conseguem. Os mesmos de sempre. E há outros que não querem ficar de fora e conscientemente alinham em algumas destas iniciativas, para não desbaratarem um capital de unidade e luta.

Alguma coisa tem de ser feita. Assim é uma tristeza. Um dia destes, a continuara assim, nem com os trabalhadores de sempre, nem com os que alinham sempre, para não criar divisões, se pode contar. Ficam só os burocratas sindicais ou os burocratas do partido. A verdade é que a maioria de nós, sindicalistas e activistas, também, pouco fazemos para mudar. Sabemos que não é fácil, a máquina está “fechada” para nela ninguém entrar. Mas vai faltando participação, exigência, esforço para mudar, falta determinação para o combate.

E quem quer ser sindicalista hoje? Quem é activista sindical? Quem quer ser dirigente sindical? E quem estando interessado, conseguirá entrar num universo que está interdito a outras vozes e pensamentos? O cerco da máquina partidária ou sindical abafa tudo. É uma tristeza e lamentável.

Hoje a carreira profissional está primeiro. O egoísmo está primeiro, O individualismo está primeiro. Mas tudo poderia ser diferente se o processo de renovação se desse pacifica e livremente, sem interferência politica e partidárias, sem querer controlar a máquina, escolhendo os mais preparados, os mais disponíveis em cada momento e por períodos curtos. Os trabalhadores só tinham a ganhar!


Termino com António Chora: “…infelizmente, milhares de pequenas e médias empresas irão fechar, dezenas de milhares de trabalhadores irão conhecer o desemprego, provavelmente muitas empresas irão encetar processos de fusão, surgirão novas e mais sofisticadas tecnologias, uma outra globalização deve nascer, novas organizações do trabalho e profissões nascerão, e se os Sindicatos não se adaptarem, não se democratizarem, permitindo a participação de todos os trabalhadores, promovendo eleições proporcionais tais como nas Comissões de Trabalhadores, e se não optarem por defender verdadeiramente os Trabalhadores que representam, em prejuízo de falsas opções de classe e ligações partidárias, correm sérios riscos de desaparecerem por falta de credibilidade, logo de sindicalizados. Alguns anti-sindicalistas esfregarão as mãos da alegria se tal acontecer, neste momento já riem do sufoco económico a que os Sindicatos se deixaram chegar, é no entanto uma obrigação de todos os que defendem um sindicalismo ao serviço dos trabalhadores, lutar para que tal não aconteça, lutar para que das cinzas desta crise nasça um sindicalismo sem amarras, um sindicalismo aos serviço de todos os Trabalhadores, um sindicalismo mais de acção do que de reacção".
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