quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A Convenção do Bloco e "doutrinas" que persistem

Umas das coisas que me chateia nos partidos políticos são as orientações políticas, enquanto regras que vinculam toda uma organização partidária, mesmo quando são tomadas pelo órgão máximo do partido. No meu entendimento, numa organização política, não deve haver decisões que obriguem os seus membros de forma definitiva. O congresso decide a estratégia, decide as linhas programáticas gerais, os princípios políticos, dá indicações políticas, apresenta uma carta de compromissos com os eleitores. Este é um princípio político que defendo há muito tempo. Avesso a controlismos e a regras mais ou menos rígidas, defendo o princípio da responsabilização política nas organizações, a confiança nas estruturas locais, em vez da imposição de directrizes políticas.

Vem isto a propósito da próxima convenção do Bloco. E refiro-me ao Bloco porque, em minha opinião apesar de todas as minhas divergências, é um partido em construção e portador de um projecto político (com problemas, contradições, dificuldades, oportunismos também) que pretende reabilitar a política e reconfigurar o espaço político em que me situo. E apenas para sublinhar este aspecto: todas as três moções padecem do mal que cito acima. Em todas elas se evidenciam esses traços vanguardistas e centralistas; querer determinar de forma vinculativa as escolhas políticas, em particular, onde essas escolhas deveriam caber aos órgãos locais, as eleições autárquicas: que conhecem as realidade, as pessoas, os interesses, os projectos pessoais e políticos dos candidatos. A moção A, da direcção, quer impor que não há alianças. As moções B e C querem impor que devia haver coligações com outras forças de esquerda. Nenhuma delas se lembrou ou lembra de dar essa autonomia e responsabilidade às organizações locais que conhecem melhor que ninguém a realidade concreta.

Dou um exemplo pessoal, de quando ainda era militante, e de como estas posições são nefastas e não credibilizam as organizações, junto dos cidadãos, nem fazem a diferença entre partidos. As duas freguesias da minha cidade eram geridas pela CDU. Uma tinha obra feita e um presidente sério e empenhado. A outra não. Numa reunião propus, sem muita convicção por estar preso a decisões centrais, o apoio à candidatura da CDU na freguesia onde havia um bom trabalho. Baseado em duas razões: porque aquela candidatura merecia de facto ser reeleita e tinha o apoio popular, como se veio a confirmar. Mas também por razões tácticas. Porque apoiando uma candidatura se estavam a dar sinais claros de seriedade política (apoiando quem merecia sem tricas partidárias) e ao mesmo tempo a dizer que a outra candidatura da CDU não merecia o mesmo apoio (A CDU acabou por perder esta freguesia). Todos os presentes ficaram surpreendidos com a proposta mas curiosamente concordantes. Mas ficou por ali, claro.

Leio agora que na Covilhã o “coordenador” local (curioso que esta figura de coordenador não existe nos estatutos, mas plos vistos é assumida por todos) defende o apoio à recandidatura do Presidente da Câmara do Fundão do PS ao contrário da deputada municipal. Não conheço a situação. O que sei é que esta discussão nem sequer pode ter lugar porque todas as listas são centralistas e vanguardistas.
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