segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Um olhar sobre a militância partidária

Ser militante de um partido não é propriamente uma coisa bem vista. Na maledicência nacional quem está na política é alguém que anda à procura de benefícios pessoais, especialmente, quando essa militância se dá nos partidos mais próximos dos poderes ou das influências. Não deixa contudo de ser um pouco verdade. Olhando para os partidos que nos representam, são bem visíveis, os encostos aos chefes, aos donos dos aparelhos, às figuras que gozam de ascendência dentro da estrutura. Quando hoje se fala de medo no PS (mas podia ser no PSD também) é o medo de perder um lugar: no aparelho de Estado, no parlamento, nos municípios. E por consequência toda a corte de favores, negociatas, influências.

Mas ao mesmo tempo é de uma grande injustiça dizer que toda a gente se move por interesses oportunistas. Digo mesmo que se há coisas que me custa ouvir ou ler é que os políticos são todos iguais. Que é tudo a mesma cambada de comedores. Eu sei que isto não é verdade. Não digo isto por mim -mas poderia dizer, não obstante ter deixado a militância partidária; falo em nome de muitas pessoas que sei que dão o corpo ao manifesto. Porque querem mudar. Porque querem mais justiça e igualdade social. Que não se acomodam, não se rendem, não se vendem. E alguns estão no parlamento. Porque acreditam que é nos partidos que podem defender melhor os interesses colectivos dos mais desfavorecidos. Dizer que são todos iguais é lavar a face aos políticos trafulhas, corruptos, impostores. Eu admiro e respeito todos aqueles que nos partidos ou fora deles, não se conformam, que lutam todos os dias, que têm uma exigência cívica muito elevada. Saber separar as águas é importante para saber onde estão os nossos aliados ou nossos adversários, políticos e de classe. Tudo igual e tudo no mesmo saco é que não!

Alguma da desconfiança sobre os políticos tem muito a ver com o funcionamento dos partidos. E a pergunta logo se impõem: serão os partidos, suficientemente abertos e apelativos, capazes de oferecer um debate livre, democrático e plural, sem reticências, desconfianças e temores, aos activistas políticos dentro do mesmo campo de afinidades políticas? Em minha opinião, não! Em minha opinião, por uma razão principal: a incapacidade de lidar com a critica. E esse é quanto a mim, um princípio do qual não deve abdicar um partido verdadeiramente democrata.

O militante deve poder exercer, sem constrangimentos, em público ou em privado, a critica como um dos valores absolutamente inquestionáveis no funcionamento de um partido democrático. Um partido que não aceite este princípio é um partido-coutada de alguns senhores. É um partido fechado à sociedade e ao activismo partidário. Um partido de “alma” intrinsecamente democrata, não deve nunca se perturbar, com a exposição pública de divergências.

Quantos partidos existem com esta “alma”? Que partido aceita com respeito, naturalidade e tranquilidade a diferença de opiniões no grupo? Nenhum. Nos estatutos alguns, mas na prática, apenas vão tolerando desde que não provoque “danos”. Tentando ser claro: uma coisa é a lealdade e a responsabilidade política, num quadro de defesa de um projecto político, outra bem diferente é tentar silenciar as posições críticas de quem entende ser adequado tornar publica uma diferença de opinião, invocando falsos unanimismos.

A crítica deve ser aceite como regra do jogo democrático. Sem sobressaltos. Não consigo vislumbrar uma situação onde a intervenção do colectivo partidário poderá se sobrepor à livre expressão de um pensamento ou de uma crítica. Uma crítica bem arrumada no plano político e ético pode incomodar, ser injusta, mesmo desagradável, mas renegar este valor fundamental da democracia é impróprio de um partido democrático. No dia em que os partidos (os militantes) souberem conviver pacificamente com estes aspectos, teremos sem dúvidas uma democracia melhor.
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