sábado, 7 de fevereiro de 2009

A VI Convenção do Bloco

A VI Convenção do Bloco de Esquerda decorre neste fim-de-semana. Pela primeira vez, creio, não estarei presente na reunião magna dos aderentes do Bloco. Com alguma tristeza, confesso. Mas a vida tem destas coisas. Muito embora continue a apoiar o projecto do Bloco e me reveja na maioria das suas posições e propostas políticas, não obstante, encontrei algumas pequenas divergências que, sendo normais e naturais num projecto em construção, embicaram com a minha personalidade e me levaram de forma decisiva, ao fim deste tempo todo, a abandonar a militância partidária, militância aliás que tinha prometido não mais ter, quando a meio dos anos 80, deixei a UDP.
O Bloco tem agora dez anos. A sua criação, no tempo, agrupando algumas das forças políticas de esquerda e alguns independentes, tão diferentes e tão distantes politicamente e com um passado assinalado por grandes divisões, sectarismos, espírito clubista e muito prisioneiros de conceitos e doutrinas políticas, interpretadas de forma dogmática e vanguardista, de tão improvável, afigurava-se a todos os comentadores políticos, um processo condenado à partida.

Contudo, quem acompanhou o projecto fundador sabia que este era o projecto mais consistente, mais abrangente, o mais sério, mais ousado e interessante, alguma vez abraçado por qualquer força política da esquerda:
Um projecto de recomposição de todo o espaço de esquerda anti-capitalista, num processo paciente de desconstrução barra construção ideológica, sem amarras, sem preconceitos ideológicos, sem tabus, mas simultaneamente virado para fora, para os problemas concretos das pessoas, para no confronto das ideias, conquistar a maioria social e fazer vingar propostas políticas inovadoras e fracturantes, em contraste com as velhas receitas da esquerda, como a transparência, a exigência cívica, o direito das minorias, o combate às desigualdades e discriminações.
Neste dez anos mudou muita coisa. O Bloco cresceu imenso. As pessoas reconheceram no Bloco uma força de combate, intransigente com as artimanhas, as falsidades, as manobras golpistas e simultaneamente, um partido com ideias e propostas atraentes, adequadas, consequentes. Com o aumento do número de deputados, com mais meios financeiros, um corpo maior de assessores e especialistas, a prestação do Bloco, especialmente no parlamento, ganhou qualidade, dimensão e acuidade, nas propostas políticas e na oposição ao Governo Sócrates, constituindo-se como a oposição mais eficaz, mais competente e a que verdadeiramente enerva o Governo e Sócrates.

Os novos tempos exigem agora novas e adequadas intervenções. O Bloco está numa espécie de encruzilhada. O crescimento e as expectativas são altos. Saber como responder aos novos apelos é o desafio. O de ser mais que uma boa oposição. O de ser mais que contra-poder. O eleitorado parece querer dar-lhe um papel chave no futuro próximo da governação, retirando a maioria ao PS e aumentando a sua representação parlamentar. O Bloco nestas circunstâncias tem de ser muito claro: ou viabiliza uma solução PS/BE no Governo ou no Parlamento ou se afirma novamente como uma oposição consequente e responsável. A palavra parece estar dada: é a segunda alternativa. Pela simples razão de que não é possível estar com Sócrates e com tudo o que ele representa, em termos políticos e pessoais, mas sobretudo de alternativa do modelo de sociedade ao nível económico e social.

Cabe ao Bloco continuar a trilhar o projecto fundador, agora com mais vigor e exigência consigo próprios: avançar com o projecto de recomposição orgânica das esquerdas anti-capitalistas, acelerar os processos de convergências concretas à esquerda (sem exclusões e com todos os interessados), continuar o combate político ideológico contra a supostas inevitabilidade das políticas neoliberais, aprofundar o debate político e ideológico à esquerda, sem complexos e sem tabus.

O tempo não está para divisionismos e para discussões estéreis. O tempo é de reunir forças: para afirmar uma alternativa de esquerda seria e credível e para disputar o poder. Não temos de estar condenados ao centrão político e de interesses.
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