quinta-feira, 21 de maio de 2009

Autoeuropa: os trabalhadores e o emprego antes de tudo


As negociações na Autoeuropa estão hoje mais difíceis que no passado. A crise na indústria automóvel está à vista de todos. Vendem-se menos unidades. Haverá muitas razões que podem explicar isso, mas de todas, o abaixamento do poder de compra, muito sentido após a adesão à moeda única, explicam, em Portugal, a fatia maior na diminuição das vendas . Hoje a troca de carro é mais tardia e os jovens mostram grandes dificuldades em ter o seu primeiro carro (como a sua primeira casa, o primeiro emprego, etc. ).

No passado recente os acordos na Autoeuropa mereceram elogios e reparos: a) elogios pela actuação competentes dos dirigentes da CT nas negociações, sabendo conciliar firmeza na defesa dos direitos dos trabalhadores e elasticidade negocial na procura de soluções, assegurando sempre que a um recuo se seguiria um avanço em “dobro”, sempre que as condições económica-financeiras da empresa desse mostras de melhoria, como veio algumas vezes a acontecer. B) reparos, ou melhor dito ataque soezes dos que vêem o sindicalismo apenas como um instrumento de combate político-partidário e não como meio de defesa dos superiores interesses dos trabalhadores e dos seus direitos (como bem perceberam os trabalhadores que em plenários aprovaram sempre e por larguíssima maioria os acordos celebrados). Viu-se o que deram estas intransigências na OPEL da Azambuja: deslocalização da empresa e trabalhadores para o desemprego. Por fim, ainda, alguns empresários sem escrúpulos que deturpando o acordo apenas se referiam à flexibilidade negocial, escondendo as garantias e os direitos subsidiários conseguidos.

Não, por acaso, a Autoeuropa tem-se aguentado, não tem havido despedimentos, os trabalhadores continuam a ganhar acima da tabela, os trabalhadores não têm perdido direitos mas apenas trocado ou suspenso. Agora os dirigentes e os trabalhadores, na renegociação de um novo acordo, deparam-se com uma intransigência inesperada e forte da administração, parecendo difícil encontrar soluções de consenso, em que as partes possam ceder, sem colocar em causa a perda de empregos, a deslocalização da fábrica ou a perda de direitos de forma definitiva, isto apesar dos apoios do Estado concedidos à indústria automóvel.

A CT de trabalhadores enfrenta um novo teste. E qualquer que seja a decisão será, agora redobradamente, motivo de criticas. Um acordo com a empresa, nas condições pretendidas pela administração será entendido como uma cedência, uma capitulação. Uma atitude de total irredutibilidade, poderá colocar em causa alguns postos de trabalho, ou mesmo a deslocação da produção para a Alemanha e o despedimento colectivo. Em última análise é toda uma economia de uma região que está em causa. Dezenas de empresas que sobrevivem à custa da Autoeuropa, milhares de trabalhadores a correrem riscos de desemprego.

Há quem já esteja de dentes afiados. A célula do PCP está à espera de lançar o ataque seja qual seja a decisão e mesmo que esta tenha o apoio dos trabalhadores. Aos dirigentes, agora como no passado, exige-se inteligência, criatividade. Ser firme mas pesar todas as consequências, não arrastando os trabalhadores para becos sem saída, irremediáveis. Não queria estar na pele dos dirigentes da Comissão de Trabalhadores. Em última análise caberá aos trabalhadores decidirem. Não desistindo de lutar mas cuidando de não esticar a corda até rebentar.

Como já tive de dizer num anterior post: a crise veio mostrar como o capitalismo é ganancioso e selvagem. Em tempo de vacas gordas enchem-se à vontade e à larga não partilhando com os trabalhadores a criação da riqueza. Nas dificuldades os trabalhadores são tratados como cães vadios. Aos primeiros sinais, fazem verter sobre os trabalhadores a crise, despedem, fecham as empresas. Não aceitam a diminuição dos lucros. Uns tempos de prejuízos depois de anos e anos de intensos lucros. A diminuição dos tempos de trabalho, os lay-off’s, são ganhar tempo, para esconder o despedimento colectivo que vem logo a seguir. Os trabalhadores que sabem o que significa o drama do desemprego, não se esquivariam nunca a ceder temporariamente direitos, salários, se a crise existir de facto e perfeitamente demonstrada.

O problema é o capitalismo predador.
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