quinta-feira, 18 de junho de 2009

A díficil decisão dos trabalhadores da Auto-Europa

Não é fácil, nestes tempos, aos trabalhadores tomarem decisões, sobre a diminuição de direitos ou regalias, se confrontados com ameaças de despedimentos ou o fecho da empresa, como forma de sobreviver à crise instalada. Não é fácil sendo verdadeiras ou falsas as razões. A crise não é uma invenção. A dificuldade de algumas empresas é efectiva. Mas também outras, a pretexto da crise, despudorada e mentirosamente, servem-se da situação, para fazer chantagem e atacar os direitos sociais.

A mim não me custa nada aceitar a suspensão de direitos ou mesmo a perda de benefícios, se o objectivo é salvar postos de trabalho, de todos ou de alguém em particular, sendo reais as dificuldades, mesmo considerando que as empresas teriam o dever moral de usarem as “reservas” dos tempos de lucros, para enfrentar os novos problemas, antes de fazer recair sobre os mesmos, os custos todos ou maiores, das novas contrariedades.

Tenho de António Chora, coordenador da Comissão de Trabalhadores da Auto-Europa, a imagem de uma pessoa séria, verdadeiramente empenhado em defender os interesses dos trabalhadores, mas também a de um hábil negociador. Sabendo onde e como avançar, recuar ou ceder. O pré-acordo entre a Comissão de Trabalhadores e a Admnistração da Auto-Europa, recusado maioritariamente em assembleia geral dos trabalhadores, ao que julgo saber, implicava uma solução de consenso: os trabalhadores aceitariam trabalhar metade dos sábados (em altura de picos usando os dias de saldo existentes) sem direitos a compensações remuneratórias extraordinárias (a empresa queria todos os sábados) e a empresa comprometia-se a não despedir trabalhadores efectivos e contratados e a readmitir os trabalhadores que foram despedidos e que tinham sido contratados a termo.

A mim, parecia-me uma proposta realista, sabendo-se que a crise no sector automóvel é concreta –vende-se menos, mesmo que a Auto-Europa, seja a empresa onde menos se fez sentir a quebra. Mas como disse, António Chora, os resultados dos trabalhadores são para respeitar. Contudo e na linha do que disse atrás, Chora fez o que eu faria: em primeiro lugar preservar os postos de trabalho e garantir readmissões de trabalhadores despedidos, e para isso aceitar a diminuição temporal de direitos de forma equilibrada. A maioria dos trabalhadores, 51% não aceitou esta proposta. Espero apenas que não sejam irredútiveis. Recuar não é resignação ou derrota; é o resultado de uma avaliação dos perdas ou ganhos de uma posição conjuntural. O que importa salientar é que a decisão foi uma decisão livre e ponderada dos trabalhadores. Espero que tenha sido a melhor, para eles e para todos.
blog comments powered by Disqus
 

Copyright 2009 All Rights Reserved Revolution Two Lifestyle theme | adquirido e adaptado por in coerências