quarta-feira, 8 de julho de 2009

Com pessoas integras, sim, há almoços grátis. Solidariedade a Chora

A minha actividade política e partidária, creio já o ter dito aqui, surge ligada a um partido da extrema-esquerda, a OCMLP (Organização Comunista Marxista Leninista Portuguesa), a partir do contacto com o jornal clandestino o Grito do Povo que mãos amigas me fazia chegar, regularmente, à minha caixa do correio.

Mas a minha consciência política começa a ganhar forma antes, a partir dos 14 anos, quando ingresso no trabalho formal, nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, através do meu “chefe”, Manuel Carvalho, militante do PCP, uma excelente pessoa, felizmente ainda entre nós (que sempre encontro no almoço comemorativo do 25 de Abril, precisamente onde tudo começou –no refeitório dos Estaleiros Navais onde decorre a efeméride) ao decidir inscrever-me, pouco tempo depois no sindicato dos electricistas, certamente adivinhando na minha precoce irreverência, uma frescura e uma energia bastante, para dar um enquadramento político a uma rebeldia saudável e pura.

Mas foi com a mudança para a Portugal Telecom em 1970 (na altura CTT – ramo das telecomunicações), um ano ou dois depois, com a convivência de perto com outra pessoa excepcional, das melhores que conheci, uma pessoa inteligente e sensível, um colega de trabalho mais velho do que eu, igualmente militante comunista do PCP, o muito saudoso e querido amigo António Santos, já falecido, que fez despertar em mim, uma consciência política para coisas e situações que não cabiam no imaginário de um jovem, com apenas 16 anos de idade, mas já com uma vivência um pouco incomum.

De Manuel Carvalho e António Santos, apesar de termos seguido, posteriormente, caminhos eu diria paralelos, em termos partidários, guardo ensinamentos e postura de vidas, que me fizeram um homem diferente. Uma abertura e respeito pelas opiniões contrárias, a sensibilidade para as questões sociais, para a justiça social, a igualdade a solidariedade e o reconhecimento devido a quem nos respeita, mesmo quando estamos em campos políticos opostos. Tenho a certeza que nunca chegarei a fazer justiça a esses ensinamentos.

Não foram somente estes meus dois companheiros, naturalmente, a formar a pessoa que hoje sou. Muitos outros ajudaram-me a tornar um homem melhor. (Embora não seja grande coisa, digo eu e dirão outros – mas sei que, apesar de tudo, não sou um mal tipo). Alguns deles partilhando a militância política. Com todos os problemas, erros, sectarismos, oportunismos dos grupos da extrema-esquerda, a militância política e partidária, muito intensa e generosa, a actividade sindical, a ligação ao associativismo, o ser treinador (presidente, massagista, motorista, companheiro, amigo) de Andebol de um grupo de jovens desde os 9/10 anos até aos 17/18 anos, marcaram para sempre uma vida. Sinceramente, e só eu seu o quanto isso é-me doloroso, penso que o meu grande falhanço, foi com os meus filhos. Eles mereciam ter um melhor pai. E nem quero desculpar-me com o divórcio que os apanhou muito novos. (estou a escrever isto e os meus olhos estão em lágrimas – nem sei se deveria estar a dizer estas coisas mais intimas eles que me desculpem.

Para terminar e era sobre isto que verdadeiramente queria falar, tenho o terrível defeito de querer (tentar) explicar (e eu explico-me muito mal) um pouco mais e melhor a minha posição, queria deixar expresso, o quanto me desiludem, magoam os juízos de valor apressados, as opiniões baseadas em preconceitos, a “ideologização” de tudo, por parte de alguns, as exteriorizações de uma suposta superioridade moral.

Bem e agora termino mesmo deixando bem claro a minha solidariedade pessoal a António Chora. Eu percebo e compreendo muito bem que António Chora, a título pessoal, tenha acedido ao convite pessoal e participado num jantar de despedida e de homenagem ao ex-ministro António Pinho. Chora, para mim, nem precisava de se explicar. Chora participou porque é uma pessoa séria, não hipócrita, não quis saber das consequências políticas do seu acto. Bastava-lhe estar de bem com a sua consciência. E se na análise de Chora o ministro fez um bom trabalho e em particular, fez tudo o que estava ao seu alcance para salvar os postos de trabalho da Auto-Europa, ele, a título pessoal, manifestou-lhe o seu agradecimento pelo empenho pessoal. Um gesto bonito!

E sim, há almoços grátis em pessoas integras!
blog comments powered by Disqus
 

Copyright 2009 All Rights Reserved Revolution Two Lifestyle theme | adquirido e adaptado por in coerências