sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Pornografia

A violação do segredo de justiça, como princípio, não é uma coisa boa, na medida em que faz passar para o julgamento da opinião pública, casos, situações e pessoas, normalmente de forma parcial, que não permitem, em coerência, ajuizar de forma completamente isenta e independente. Mas também, reconheça-se, muitas vezes é a única forma, face a alguns constrangimentos da justiça, para dar expressão pública a realidades que, sem esse quebrar das regras, talvez nunca se viesse a saber e em toda a sua extensão.

A justiça obedece a princípios e leis, mas é determinada, em última análise, por pessoas, e como tal, eventualmente dependente do desígnios de quem decide. A cada um de nós e aos jornalistas especialmente, cabe, extrair o que é do interesse público, e apenas este, se se presumir que estão em causa valores mais importantes. É o caso das escutas que estão a envolver Sócrates e cª, "apanhados", no caso Face Oculta, que pela sua natureza, dimensão e motivos, se estão a revelar como perigosos para a saúde da democracia em Portugal.

Nestas circunstâncias, parecem-me bem-vindas as violações do segredo de justiça que tanto tem agitado certos meios políticos. O caso assinalado aqui é como disse um dos intervenientes verdadeiramente pornográfico e, acrescento eu, merecedor de uma investigação a sério.

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