sábado, 25 de julho de 2009

Sócrates um traficante político. Joana Amaral Dias um bom exemplo.

Ponto de partida: o Bloco de Esquerda é o meu partido. Melhor dito: o Bloco é o partido que apoio, com que colaboro, em quem votei em todas as eleições, de quem fui deputado municipal e dirigente. Clarificando: quando disse melhor dito quero significar que os partidos são para mim, apenas, instrumentos da luta política. Não sou de ninguém nem nada é meu. Empresto-me e espero empréstimos. Desculpem-me a filosofia barata. Esta inserção serve para dizer que penso ter o distanciamento suficiente para observar os factos políticos, as questões partidárias, as ideologias, as coisas da vida, sem amarras e por isso livres, apenas comprometido com a minha consciência, uma consciência que não pesa, nos valores, nas amizades, nas considerações pessoais, na solidariedade.

Depois de muitos anos de intervenção política e partidária e de um tempo igual de afastamento (neste lapso mais ligado à actividade associativa, ao sindicalismo, à carreira profissional), acreditei num novo projecto político há dez anos atrás: um projecto de reunificação das esquerdas, à esquerda do PS, de um PS rendido às políticas neo-liberais e esquecido das pessoas, da justiça social, da dignidade do ser humano mais frágil, mais exposto, mais pobre. Um projecto a ser construído no dia a dia, lado a lado com as lutas, todas as lutas, desta gente esquecida, ignorada, abandonada, desprezada. Um projecto sem preconceitos ideológicos, sem certezas, sem ideias feitas, onde a política e a ideologia se moldaria nas lutas populares, se inspiraria na irreverência dos jovens, na sabedoria dos mais idosos, na inteligência dos trabalhadores, neste novo tempo das liberdades, da modernidade e das tecnologias. Contra o centrão dos interesses. Por uma esquerda moderna. Uma esquerda de confiança. Por uma sociedade social e economicamente mais justa, sobretudo respeitadora da dignidade das pessoas

Ponto intermédio: hoje politica e ideologicamente não sei o que sou depois de ter sido no passado, comunista, marxista, leninista, maoista. Agora sou pouco dado a ismos e istas. Sem complexos e sem fantasmas. Mas se quisesse colar um rótulo diria que sou uma espécie de anarca-comunista ou socialista libertário. O que sei que sou, decididamente, é uma pessoa de esquerda, uma pessoa de causas e valores, alguém que se preocupa e luta contra as desigualdades, a injustiça, a indignidade.

Ponto final: nestas eleições vou continuar a votar no Bloco de Esquerda. Não confio nos partidos e nos políticos do “Centro Político”. Não acredito em regenerações do PS à esquerda. Os partidos do impropriamente chamado “arco da governabilidade” são os partidos dos interesses, do oportunismo, do clientelismo, dos favores aos ricos e poderosos. Nunca o interesse público, os trabalhadores, os mais pobres, os desfavorecidos, os mais frágeis, serão a sua angústia, a razão primeira das suas preocupações e prioridades. Resta-me o PCP ou o Bloco. Não será o PCP porque discordo da sua visão do mundo, da sua posição sobre a Europa, do seu patriotismo tonto, de um conservadorismo político e ideológico, da sua postura vanguardista, sectarismo e finalmente do seu modelo de sociedade ou dos países que lhe servem de referência. O meu voto é no Bloco de Esquerda pelo projecto, pelas propostas, pelo programa, pela forma e conteúdo do combate político, pela capacidade e competência dos seus principais dirigentes.

Post scriptum: o PS de Sócrates tentou "pescar" Joana Amaral Dias para as suas listas de deputados. Ofereceu-lhe também um lugar de chefia num Instituto Público. Joana Amaral Dias recusou ambos os lugares resistindo às mordomias. Mostrou ser digna e de confiança. Os bloquistas que tanto nela bateram quando esta se mostrou desgostosa por ter sido afastada da Mesa Nacional bem podem agora morder a língua. Esteve bem agora Francisco Louçã ao lançar-lhe um elogio público. Ser do Bloco não é ser "bloquista". Ser do Bloco é ser fiel às suas convicções e ao seu projecto inicial. Já o referi aqui: alguns militantes do Bloco estão a perder humildade, a ganhar sectarismo (por via do seu crescimento) e a sofrer de uma doença muito típica dos grupos de antigamente: a partidarite. Sobre esta investida de Sócrates o pior da política e da pessoa: a falta de vergonha, a traficância política, enfim o PS e Sócrates no seu melhor.
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