quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Queria ...



Queria tanta coisa
Que as palavras já
não transmitem.
Os gestos já vacilam,
porque não suportam
Tanto querer.

O sorriso já não ri,
porque o rosto está cansado.
As mãos quase não agarram,
porque quase tudo vai fugindo.
Os olhos esses ...
ainda brilham,
porque o coração não
deixou de amar.

(de Adelaide Graça - Limites da Razão (1998)

(Minha querida amiga Lay um beijinho para ti. Não te deixes abater ... pensa em ti, amiga. Sê um pouco egoísta.)

Aproveito para desejar a todos as amigas e amigos, leitores habituais e visitantes ocasionais do in coerências, um ano de 2010 do melhor.

(imagem de Terry Morgan, um heterónimo de Tiago Manuel; uma ilustração do livro Lua Negra.)

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Palavras afiadas n' Os Dias Imprecisos

Álvaro de Oliveira escreve com as palavras afiadas. O Álvaro de Oliveira é um grande amigo, um grande escritor - poeta e romancista -, com mais de uma dezena de livros publicados que um dia me deu a honra de lhe fazer a apresentação de um livro, na XXVI Expo-Feira do Livro – X da Lusofonia em Viana do Castelo. Álvaro de Oliveira tem um blogue que só agora "descobri", Os dias Imprecisos, nome de um dos seus livros.

Com as "palavras afiadas" e a "foice dos dedos" Álvaro, agora também aqui na blogosfera, cumpre o signo dos seus dias, " ... ir até ao fim da estrada com as palavras coladas aos dedos".

À minha mais que evidente falta de vontade, cansaço de velhas lutas, continuamente invocando José Mário Branco e o "médico das almas", para saber em que "combate, combater" e como o fazer, remeto, os que me vão lendo, para o Álvaro, mais um dos que não se resignam, que nunca se resignam, teimando em querer mudar o mundo e a "ordem estabelecida". Um abraço, amigo.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Um Bom Natal

(...)

Hoje,
peguei nas minhas dores
e lancei-as para o meio de ti,
para que, ao procurá-las,
eu tenha
que encontrar as tuas Dores
e já não saiba
quais são as tuas e as minhas!...

Alfredo Reguengo (poeta, comunista e resistente anti-fascista vianense)

domingo, 20 de dezembro de 2009

Manuel Alegre não será o meu candidato ... podendo até votar nele.


sábado, 19 de dezembro de 2009

Quatro quadras soltas - 3 cantos



Eu vi quatro quadras soltas
à solta lá numa herdade
amarrei-as com uma corda
e carreguei-as para cidade

Cheguei com elas a um largo
e logo ao largo se puseram
foram ter com a família
e com os amigos que ainda o eram

Viram fados, viram viras
viram canções de revolta
e encontraram bons amigos
em mais que uma quadra solta

Uma viu um livro chamado
"Este livro que vos deixo"
e reviu velhas amizades
eram quadras do Aleixo:

Ó i ó ai, Há já menos quem se encolha
Ó i ó ai, Muita gente fala e canta
Ó i ó ai, Já se vai soltando a rolha
Que nos tapava a garganta

Ora bem, tinha marcado
encontro com as quadras soltas
pois sim, fiquei pendurado
como um tolo ali às voltas

Chegou uma e disse: Andei
a cumprimentar parentes
e eu aqui a enxotar moscas
vocês são mesmo indecentes

Respondeu-me: ó patrãozinho
desculpe lá essa seca
estive a beber um copito
com uma quadra do Zeca:

Ó i ó ai, Disse-me um dia um careca
Ó i ó ai, Quando uma cobra tem sede
Ó i ó ai, Corta-lhe logo a cabeça
Encosta-a bem à parede
Das restantes quadras soltas
não tinha sequer notícia
dirigi-me a uma esquadra
e descrevi-as a um polícia

Respondeu-me: Com efeito
nós temos aqui retida
uma quadra sem papéis
que encontramos na má vida

Diz que é uma quadra oral
sem identificação
que uma quadra popular
não precisa de cartão

Se diz que pertence ao povo
o povo que venha cá
que eu quero ver a licença
o registo e o alvará:

Ó i ó ai, Quando se embebeda o pobre
Ó i ó ai, Dizem, olha o borrachão
Ó i ó ai, Quando se emborracha o rico
Acham graça ao figurão

Fui com a quadra popular
à procura da restante
quando o polícia de longe
disse: venha aqui um instante

Temos aqui uma outra
não sei se você conhece
desrespeita autoridades
e diz o que lhe apetece

Tem uma rima forçada
e palavras estrangeiras
e semeia a confusão
entre as outras prisioneiras

Se for sua, leve-a já
que é pior que erva daninha
olhe bem para ela: É sua?
olhei bem para ela: É minha!

Ó i ó ai, Nós queremos é justiça
Ó i ó ai, E dinheiro para o bife
Ó i ó ai, E não esta coboiada
Em que é tudo do sherife

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O direito à adopção é irrecusável no casamento homossexual.


Sinceramente não consigo perceber o que move os opositores ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Para mim as coisas são sempre muito simples: a aquisição de direitos por parte de uns agride os direitos de outros? Podem uns decidir como os outros devem organizar a sua relação amorosa, discriminando-os? É para mim muito claro que não! Mais, é quanto a mim um abuso que à luz de concepções de família, fundadas em preconceitos religiosos, morais ou outros, se procure impedir quem o desejar de construir a sua felicidade como o desejar, se e quando esses valores não beliscam interesses e direitos de outros!

Mas dizem os opositores ao casamento homossexual que este é o menor dos males. Dizem eles que a aprovação desta lei carrega uma inconstitucionalidade, afinal a que se baseia o PS para a propor - o princípio da não discriminação -, ao deixar de fora o direito à adopção de crianças pelo casal homossexual.

Sobre este ponto não deixam de ter razão: o que o PS está a propor é um casamento de segunda categoria. O casamento que acaba com uma discriminação não pode criar outra discriminação: a impossibilidade de adopção de crianças por casais homossexuais.

Mas é sobre a possibilidade de adopção de crianças por casais homossexuais que se manifestam todas as minhas incompreensões e discordâncias com os opositores da mesma. Em bom rigor fico mesmo revoltado. E também aqui a minha visão é muito fácil de explicar: entre as dúvidas "científicas" sobre a construção da personalidade da criança as minhas certezas: as crianças precisam é de amor; de quem as acolha e cuide em harmonia e num bom ambiente, que lhe incutam os bons valores, da amizade, da tolerância, da solidariedade, do respeito pelos direitos dos outros, a compreensão pelas suas diferenças, que se manifestem contra as discriminações, as desigualdades, as injustiças.

São aos milhares os casos conhecidos de filhos maltratados, agredidos, violentados, abandonados. São conhecidos imensos casos de mães solteiras, de filhos educados apenas com a mãe ou o pai, de crianças a viver com um pai ou mãe ou um casal homossexual (não reconhecido como tal). O que pode oferecer esta gente a mais que um casal homossexual casado legalmente não o possa?.

Já o disse. Importa-me pouco como se vai construir a personalidade da criança, se isso quiser significar maior ou menor propensão a assumir opções sexuais "dissonantes". O que importa mesmo é que a criança adoptada o seja com amor e nos bons princípios. O resto pouco me importa e devia importar. Pelo direito à opção dos casais homossexuais, portanto.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O negócio da crise.

Depois da recusa inicial à actualização do salário mínimo nacional, à revelia do acordo rubricado na concertação social, os representantes patronais admitem agora um pequeno aumento, ainda assim muito longe dos 25 euros acordados para 2010 (para 475 euros), considerando aquela actualização como impraticável face à crise.

Ora, como diz Carvalho da Silva, esta posição dos patrões é uma grande falácia a que se somam outras: Por um lado cultivam a "institucionalização da crise" a servir de pretexto para "limitar negociações" agora e no futuro, por outro, porque este montante, no conjunto da massa salarial, representa um valor insignificante, estimado à volta de 0,5 por cento, por fim, porque os custos salariais são apenas um elemento dos custos de trabalho e seguramente, não o mais importante.

É interessante constatar que são sempre os custos salariais a serem "convocados" quando se fala em dificuldades das empresas, raramente sendo chamados os restantes custos (do negócio) e destes os mais evidentes, como a electricidade, as comunicações, os juros de empréstimos, para me ficar apenas pelas áreas de negócio que dão chorudos lucros.

Pois é, eles protegem-se uns aos outros. Lastimável é estarem sempre com a mesma ladainha.
Meus senhores, nenhum trabalho a tempo inteiro (e nas condições em que a maior parte deles é executado - sem horários fixos, sem condições e sem direitos dignos) merece um salário de 475 euros. Deixem-se de tretas! Esse choradinho já não cola!

Triste, muito triste é verificar que o salário mínimo em 2009 vale hoje menos que o salário mínimo em 1974. Uma vergonha e uma exploração dos novos e velhos ricos. O 25 de Abril não foi feito para isto.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Denunciar a indiferença e a cobardia apoiar a luta de Aminetu Haidar


"Hoy es también un buen día para la esperanza, un día que aprovecho para pedir al mundo y especialmente a las madres, que apoyen mi reivindicación, que es el regreso al Sahara Occidental. Deseo abrazar a mis hijos, deseo vivir con ellos y con mi madre, pero con dignidad."
(Carta Aberta de Aminetu Haidar à sociedade espanhola no Dia Internacional dos Direitos Humanos e quando cumpre o seu 25º dia de greve de fome, para ter o direito de entrar no seu paí e juntar-se à sua família).

Solidariedade com Aminetu Haidar! Pelo direito do povo do Sahara Ocidental a decidir o seu destino!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Solidariedade com Aminetou Haidar

Aminetou Haidar foi impedida de entrar no seu país e deportada para Espanha porque no registo de entrada no aeroporto de El Ayoun, escreveu como sua residência o Sahara Ocidental em vez de Marrocos, como esperavam as autoridades marroquinas. Como é sabido o direito do povo do Sahara Ocidental (ocupado por Marrocos em 1974 com a retirada de Espanha), a decidir em referendo a sua auto-determinação é apoiado por resoluções das Nações Unidas que nunca foram cumpridas por Marrocos.

Impedida de entrar no seu país onde vive com os seus dois filhos, a mãe e um irmão, esta activista saarauí, já galardoada com vários prémios de defensora dos direitos humanos, está há 28 dias em greve de fome, "até às últimas consequências", correndo sérios riscos sério de vida. Diz ela que os seus filhos podem perder a Mãe mas não perdem a dignidade.

A indiferença da diplomacia europeia, particularmente a da Espanha e a intransigência de Marrocos em impedir que a activista se junte à sua família, está a colocar Aminetou Haidar às portas da morte. Por cá, por outro lado, o PS, PSD e CDS, recusam dar o seu voto de solidariedade. Criminosos, Cobardes, Cúmplices, Oportunistas, são palavras que nos convocam para manifestar solidariedade e repulsa, ao mesmo tempo.

Ler, carta aberta de Miguel Portas.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Uma tarde bem passada revendo os 3 cantos

Esta tarde estive a (re)ver o concerto dos 3 cantos em Lisboa em vídeo. Um bom espectáculo, mas tenho a leve sensação do que o do Porto foi bem mais entusiasmante, com um público mais identificado com os artistas e os temas. E em plena festa e comunhão ...mesmo que estando por lá, o nosso ministro das finanças.
Fica aqui uma das músicas para os e as amigos(as).
Canto dos Torna-Viagens - Canto dos torna-viagens.


Canto dos torna-viagens |

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Já não há corrupções lícitas

A partir de agora, com o fim da distinção da corrupção para acto lícito e acto ilícito, já não há "desculpas" que justifiquem a corrupção, mesmo que o PS o continuasse a desejar.

Mais uma derrota para o PS, assim se evidenciando, depois da marcha-atrás na avaliação dos professores, das taxas moderadores em internamentos e da suspensão do código contributivo, como foi importante o PS ter perdido a maioria absoluta -e que mostra também a incapacidade (e falta de vontade) do PS em governar em consensos, ou com a esquerda como seria natural, ou mesma com a direita -mas apenas e só em arrogância (desculpem queria dizer maioria) absoluta.

Se esta lei tivesse em vigor quando Domingos Névoa da Bragaparques foi condenado por corrupção para acto lícito, não teria sido condenado a pagar uma multa ridícula de 5 mil euros -quando tentou corromper Sá Fernandes com 200 mil euros para um negócio que lhe valeria uns milhões de euros- mas antes seria preso, necessariamente.

Agora falta avançar com a aprovação das outras propostas de combate à corrupção, nomeadamente o enriquecimento ilícito, o levantamento do segredo bancário e sobre as mais-valias urbanísticas, decorrentes de alterações da classificação urbanística dos terrenos. Já nestas matérias, dúvida-se que a coisa vá para a frente. Na verdade o PS, PSD e CDS nunca estiveram verdadeiramente interessados em dar um combate efectivo à corrupção. Eles saberão porquê.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Compostagem doméstica - valorizar os resíduos orgânicos

Depois de alocar um pequeno espaço no terraço para uma pequena horta, seguiu-se a construção de um pequeno compostor doméstico no âmbito do Workshop - "Venha construir o seu próprio compostor", da iniciativa do Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental de Viana do Castelo. Valorizar os resíduos orgânicos domésticos, poupando o ambiente, aproveitando-os, por efeito da sua decomposição adequada, para utilização, na pequena horta e no pequeno jardim, muito pequenos mesmos, é uma tarefa em que estou empenhado.

Ficam algumas imagens:





Uma merda, pá!

O Tratado de Lisboa entrou ontem em vigor, com pompa e circunstância. Mas sem a consulta popular prometida. E isso é o que me chateia ...mesmo. Se não questiono a entrada na União Europeia e a defendo,  num processo de globalização inevitável e em minha opinião desejável, num mundo que quero de iguais, em direitos humanos, dignidade, justiça social e democracia, em oposição aos nacionalismos xenófobos e racistas, por um lado e a uma globalização capitalista que a projecta como sua coutada, na sua ganância infinita pelo dinheiro, sem olhar a meios e expurgando direitos, causa-me a maior repulsa a mentira, a falta à palavra dada, o afastamento consciente e deliberado dos povos, na discussão, esclarecimento e participação, nas decisões que importam a todos, e que, enfim, traçam os caminhos, os modelos, num processo de construção europeia que tem de ser, democrático e transparente.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Desemprego: a marca de um capitalismo predador

Dizer a um desempregado, a um Pai, uma Mãe, cujas empresas onde trabalhavam, acabaram por fechar, ao jovem que não consegue um contrato de trabalho para dar um rumo à vida, que estamos a sair da crise, como não se cansa a propaganda de encher os nossos ouvidos, é um insulto a quem o presente é um drama e o futuro uma perspectiva medonha.

A taxa de desemprego de 10,2% em Portugal, divulgada pela Eurostat, a quarta maior da zona euro e a sétima da União Europeia, é a marca do capitalismo predador, de uma elite empresarial gananciosa, de políticos incompetentes, de uma burguesia imoral. 

Aceitar que não há alternativas, desistir de lutar por transformações sociais e radicais nas sociedades, pela justiça social, por direitos de cidadania, é ser cúmplices com esta gente indigna. Lutar, lutar sempre, por uma vida decente e digna, para derrotar estas políticas que se nos apresentam como inevitáveis. Como se fosse inevitável e normal, haver fome, guerras, desrespeito pelos direitos humanos.

Sem emprego não há economia!
 

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