quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Defender as liberdades (a propósito dos insultos a Miguel Sousa Tavares).

As imagens de alguém a ser insultado e a precisar de protecção policial, por exercer os seus direitos cívicos consagrados na Constituição – a liberdade de discordar e de lutar pelas suas ideias, apresentam-se aos meus olhos, como intoleráveis e reproduções do pior de um tempo, no período revolucionário, que alguma esquerda, deveria ter sabido ultrapassar e que não são justificáveis, numa democracia madura.

As opiniões e as acções dos outros, podem ferir as nossas convicções e mesmo prejudicar os nossos interesses particulares, mas o contrário, também se aplica. Se o direito de cada um a defender os seus interesses, por mesquinhos ou corporativistas que possam parecer, a um ou a outros, é um direito irrenunciável e justificável, já o insulto, a violência física, a intimidação, como forma de vencer o adversário, é inaceitável, se o outro se bate no terreno da luta democrática e do exercício dos seus direitos, liberdades e garantias, conquistadas com o 25 de Abril.

Não me importa nesta nota saber quem tem razão na questão que está subjacente: se o movimento encabeçado por Miguel Sousa Tavares que se insurge contra o alargamento da área dos contentores e contra a permanência de uma infra-estrutura que cobre uma extensão de mais de 1,5 quilómetros, com um muro de contentores com uma altura de 12 a 15 metros que corta a ligação da cidade ao rio e impede uma requalificação do espaço e mais zonas de lazer, como vem sendo reclamado; se os trabalhadores que se julgam ameaçados com a perda do seu posto de trabalho se esta zona fosse requalificada. Não é isso que me importa nesta nota, como disse. Essa é outra discussão. O que me importa destacar aqui e agora, é um sindicato e duas centenas de trabalhadores, não olharem a meios para atingirem os seus fins: ofendendo, insultando, ameaçando a integridade física de quem sobre o assunto tem uma outra visão.

O que me entristece nisto tudo e não posso dizer que seja um exclusivo destes trabalhadores e deste sindicato, é que a defesa dos interesses corporativos (legítimos), possam desculpabilizar manigâncias, atropelos à lei, favorecimentos ilícitos, porque também os beneficiam. É nestas coisas que surgem as minhas principais discordâncias com os sindicatos, os movimentos, os partidos de esquerda e dos trabalhadores: nem sempre as lutas dos trabalhadores ou os trabalhadores individualmente gozam da presunção da razão. A credibilidade das organizações constrói-se muito com o exercício da pedagogia.

E como não tive oportunidade de escrever sobre o assunto, aproveito esta oportunidade para lavrar mais um nojo à colecção, sobre este Governo: precisamente o de alargar a concessão de exploração dos terminais do porto de Lisboa à Liscont/Mota-Engil, do ex-ministro socialista Jorge Coelho, sem mais, sem concurso público, sem respeito pelos concorrentes, sem cumprir os prazos máximos de concessão previstos na lei, sem cuidar de saber dos interesses dos lisboetas. Uma vergonha a juntar a tantas outras.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

23,4 milhões de euros para garantir o que estava garantido

Depois de, em Junho deste ano, a multinacional norte-americana de material eléctrico e electrónico, Tyco Electronics, receber várias isenções fiscais da Câmara Municipal de Évora, para garantir a manutenção dos 1537 trabalhadores e a criação de mais 10 postos de trabalho, o Governo de Sócrates aprovou em Conselho de Ministros, na semana passada, um apoio financeiro de 23,4 milhões de euros, visando garantir o mesmo ... ou quase, mais concretamente; a manutenção de 1485 (?) postos de trabalho, a criação de 5 postos de trabalho e a produção de três novos modelos de relés.

Segundo o Sindicato do sector esta situação é caricata e uma farsa: caricata porque o Governo apoia um projecto, assente numa garantia que já estava garantida e numa produção de relés que já estava em execução há mais de oito meses. E uma farsa porque a criação de 5 postos de trabalho é inferior à garantia conseguida pela Câmara e curiosamente num momento em que a multinacional pressiona 80 trabalhadores, com contrato sem termo, a rescindirem o contrato de trabalho.

O Sindicato pede a suspensão dos apoios e tem toda a razão.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Agiotagem, marosca ou uma boa solução?

A possibilidade de se vender a casa, ao preço do capital em dívida ou do valor do mercado e de a poder recomprar mais tarde, baseado exactamente nas mesmas condições ou pressupostos da venda, parece-me uma forma interessante de ultrapassar as dificuldades intransponíveis das famílias, que não tendo condições de assumir os compromissos com o crédito da habitação, evitam a penhora da casa, permitindo-lhes ganhar tempo e algum fôlego, garantida que fica a permanência na mesma, através de um contrato de arrendamento, no intervalo da venda e da recompra, a preços que permitam reduzir a sua mensalidade de forma mais ou menos razoável.

Melhor do que isto, sendo razoável, não consigo vislumbrar, apesar de o PCP falar em agiotagem e o Bloco de Esquerda em marosca, a não ser através de uma descida efectiva e razoável das taxas de juro (só possível à escala europeia) ou de medidas muito pontuais para os sectores mais aflitos, como os que caíram no desemprego, por exemplo, através de bonificações do Estado. Mas isto é eu a dizer que sou muito limitado nestas questões, como noutras, graças a Deus (nada aqui como atirar a culpa a alguém e Deus (se existisse) até mereceria).

Eu diria que, antecipando dificuldades, o melhor é esperar para ver, esperando que esta seja uma oportunidade para vender um património imobiliário que creio se está a desvalorizar, que estará em alguns casos, parcialmente pago, e que tendo um comprador, a querer pagar um preço justo (segundo o que li o valor será o que resultar da média de duas avaliações independentes), se possa aproveitar o remanescente da venda, para umas economias ou uns gastos mais compatíveis, continuando com o privilégio de morar no mesmo sítio.

Mas quase de certeza que estou a ver mal o assunto. E mais do que isto não estou em condições de dizer, dado que desconheço em detalhe, como funcionam ou vão funcionar os Fundos de Imobiliário e Arrendamento previstos para dar corpo a este projecto e os riscos inerentes.

Que fique claro que não estou à espera que o Estado ou os privados nos dêem qualquer coisa. Do Governo espero apenas que esta medida não seja para lixar os mais pobres em benefício dos ricos. Seria, no actual contexto de grandes dificuldades, um verdadeiro acto criminoso. Depois de perderem o emprego, virem reduzidas as suas pensões, perderem direitos sociais, em nome do futuro, seria maquiavélico e um acto de terrorismo, perderam também a sua casa, a troco de nada. Dos privados, nada a esperar também a não ser a possibilidade de fazer um negócio que possa satisfazer as partes, com uma ajudinha do Estado, desta vez inclinando-se mais para o lado dos que mais que precisam. Vamos aguardar, serenamente.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Há sempre qualquer coisa por fazer

A falta de vontade, um tempo que passa depressa demais, mais uns juntados afazeres, não me tem permitido, apesar de haver muito para comentar, gatafunhar umas coisas, expressar algumas opiniões, mesmo que apenas confinadas, à não mais que uma dúzia de leitores; os parceiros nestas lides, os amigos e as amigas do costume, mais uns quantos visitantes de ocasião. A par disso a nítida sensação de que tudo o que tenha a dizer, tudo somado, não deixam de ser reproduções do que já dissera antes, com maior ou menor intensidade, com maior ou menor veemência, em situações iguais, parecidas ou mesmo diferentes. Para além disso fica ainda a ideia de que, ao fim e ao cabo, andamos todos um pouco a pregar aos peixinhos, o que naturalmente acaba por criar desânimo e mesmo um desacreditar nas possibilidades de mudar o que é preciso, especialmente quando vemos a tempo a passar e nada muda ou se muda é para pior. Mas o que tem de ser tem muita força. E eu ainda estou cá para as curvas. Ainda sinto que tenho algumas coisas para dizer. E sobretudo muito por e para fazer.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Cheques em branco de 20 mil milhões de euros (II)

"Não sei o que é preciso fazer mais para ganhar um jogo"

Disse Carlos Queiróz.

Quando o seleccionador confessa que não sabe o que é preciso fazer mais para ganhar um jogo, o que pode oferecer mais (?) Carlos Queirós à selecção?

A selecção sem o Deco é uma selecção muito inferior. Mas mesmo assim, sem Deco, Maniche, Bosingwa e Simão, os nossos craques tinham a obrigação de fazer muito mais perante uma selecção de categoria muito inferior. Cristianos, Nanis, Quaresmas, são bons jogadores, mesmo extraordinários jogadores, mas não são, ao contrário do que pensam nem do que lhes dizem, os melhores do mundo, nem tão importantes ou imprescindíveis, como se julgam, na manobra da equipa, ao contrário do Deco, por exemplo. Mas também de um Simão, de um Bruno Alves, de um Bosingwa, de um Maniche, de um Nuno Gomes (este sim um exemplo de humildade).

Já Carlos Queirós, mostrou que lhe faltam argumentos suficientes, do ponto de vista técnico, táctico e psicológico, para ser um treinador/seleccionador pouco mais que vulgar. Ontem, Portugal, mostrou que a classe de Deco é que faz a diferença, na forma como pensa o jogo, lhe dá largura e profundidade, empurra a equipa de forma harmoniosa para a frente, mesmo com ...Carlos Queiróz.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Que políticas?

"A questão, como tenho dito e repetido, não é remendar a crise e tentar salvar o sistema, os banqueiros e os gestores que dele se serviram é que são responsáveis. É mudar o sistema neoliberal, que nos conduziu onde estamos. Como? Regulamentando a globalização, introduzindo regras éticas estritas, o que passa necessariamente, pela reforma do FMI, do Banco Mundial e da Organização Mundial do Comércio, integrando estas instituíções obsoletas no universo das Nações Unidas, democratizando-as, combatendo a corrupção, punindo os culpados e acabando com os paraísos fiscais, por onde passam tantas negociatas menos transparentes."

Mário Soares no seu melhor, hoje no Diário de Notícias.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Cheques em branco de 20 mil milhões de euros.

Esta coisa do Governo dar uma cobertura de 20 mil milhões de euros à banca para contrair empréstimos, juntos de instituições financeiras internacionais tem muito que se lhe diga. O Governo está deliberadamente a correr um risco que as instituições financeiras que emprestam dinheiro aos bancos, entre as quais o Banco Central Europeu, não querem correr: o de não haver garantias suficientes de recuperação dos créditos, no caso de incumprimento dos pagamentos.

O Governo expõe os nossos dinheiros a operações de alto rico sem nenhuma garantia. O Governo fia-se e não se acautela. Amanhã se um banco abrir falência quem entra com os créditos é o Estado. Somos todos nós, os contribuintes. Como sempre quando as coisas não correm bem. No aumento dos impostos, no abaixamento dos salários reais, na retirada de direitos e na redução dos obrigações sociais, com a diminuição dos valores das reformas.

O Governo hipoteca os nossos dinheiros para os bancos contraírem empréstimos. Mas quem não tem dinheiro não tem vícios, não foi assim que nos ensinaram? O Estado não pode passar cheques em branco. O Estado, para ser fiador, precisa de garantias seguras. O Estado não corre riscos. Não joga na bolsa. Não vai ao casino. O Estado tem de ser prudente e parcimonioso na gestão dos dinheiros públicos. É a vida de muitos que está em causa.

Os bancos se não conseguem passar a confiança e a credibilidade suficiente às instituições financeiras, para lhe concederam crédito financeiro, não podem esperar de um Estado, com responsabilidades sociais e com grandes problemas financeiros, cheques em branco, que possam comprometer compromissos futuros, com os seus concidadãos.

Habituem-se! (se fosse para os trabalhadores seria assim que diriam, no mínimo)

domingo, 12 de outubro de 2008

Enganar papalvos

Desta vez eu e a Manuela Ferreira Leite estamos de acordo: as propostas do Governo para apoiar as empresas e as famílias são eleitoralistas e investimentos em publicidade e marketing, pela módica quantia de 190 milhões de euros.

150 milhões são para empresas que dão lucros, mesmo assim ridículos (é só fazer as contas -um bónus de 12,5% para empresas com lucros até 12 500 euros, dá cerca de 1500 euros); e

40 milhões são para distribuir pelas famílias mais ricas ou menos necessitadas, um 13º mês de abono de família, um valor que mesmo assim, em termos médios, não ultrapassa os 25 euros ...num ano.

E assim são mais 190 milhões, subtraídos a todos, para exclusivo beneficio eleitoral do PS.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O direito a serem felizes à sua maneira

Amanhã os deputados do PS vão envergonhar-nos. Um partido que se diz moderno e liberal nos costumes, por motivos oportunistas, com medo de perder apoios eleitorais, vai permitir que continue a discriminação e o preconceito contra algumas pessoas, pessoas iguais a todos nós, apenas porque, para mal dos seus pecados, gostam de outras do mesmo sexo. Repito a palavra; gostam. Gostam de pessoas. E querem assumir todos os seus direitos: o direito a ser tratado como os outros, o direito a não serem discriminados, o direito a serem felizes à sua maneira.

Tal como outros, junto-me ao apelo, para que os deputados do PS, com um mínimo de dignidade, no momento da votação se retirem do hemiciclo ou ousem votar contra as orientações partidárias. Pelo direito ao casamento e pelo direito à adopção.

Governo gasta 190 milhões de euros em publicidade.

À partida todas as medidas tendentes a apoiar os mais pobres e a dinamização da economia, são bem-vindas, mesmo que sendo de efeito mínimo.

Mas nem tudo o que parece é ... e as três medidas anunciadas por Sócrates, para mim que não percebo de economia, não são mais que grandes acções de propaganda e marketing, bem feitas por sinal, e que não traduzem, com algum significado, uma benfeitoria real, na economia das famílias mais pobres e na economia das pequenas e médias empresas, e nessa medida, pelos custos que acarretam, aos cofres do Estado, algumas delas poderiam ser dispensáveis.

Refiro-me a duas em particular: a descida no IRC em 50% para as empresas cujos lucros sejam inferiores a 12 500 euros; o alargamento a todas as famílias de um 13º mês do abono de família, até agora atribuído às famílias de mais baixos rendimentos.

a) sobre a descida do IRC.
A redução do IRC é um benefício para as empresas que dão lucro mesmo que sendo pequenos lucros. Não consigo perceber. O apoio a empresas que dão lucros não deveria ser nunca a primeira prioridade, a meu ver. Nem sei mesmo se alguma vez, deveriam ser uma prioridade. A grande prioridade, as grandes medidas, neste momento de crise, deveriam ser para as pequenas e médias empresas, que não têm lucros nenhuns!..e orientadas para a dinamização da economia. Com esta medida o Governo deixa de receber 150 milhões de euros. Que vão engrossar os lucros apenas. Os 12,5% de impostos a menos (em 12 500 euros de lucros) -cerca de 1500 euros, talvez dê para uma viagem de férias, aos felizes contemplados, mas os 150 milhões de euros desta medida, dariam muito jeito para outras medidas sociais.

b) o 13º mês do abono de família.
Esta medida é muita estúpida. O alargamento do 13º mês a todos, significa para o Estado um encargo de 40 milhões de euros. E para quê? Para dar a uma família da classe alta, média e baixa, com filhos menores, um cheque no fim do ano, que não ultrapassará os 25 euros. Não me lixem! Qualquer pessoa de bem, dispensaria esta verba, aliás por ninguém reclamada, apesar das dificuldades das classes médias e baixas, em tempo de crise, em favor dos mais necessitados.

A única medida minimamente interessante, deste pacote de "apoio" às famílias e às PME, não deixa ainda assim de ser, curiosamente, a abertura de uma linha de crédito bonificado para as empresas se endividarem mais. Mas mais vale assim.

É caso para dizer que o Estado está a investir seriamente em publicidade e marketing, para enganar incautos: neste caso a publicidade custa ao erário público, 190 milhões de euros.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Consensos dispensáveis

Embora possa não parecer, tenho uma boa relação com a palavra consenso. Quando as divergências são insanáveis, e o consenso não conflitua com os nossos princípios mais profundos, é preferível o esforço do entendimento e de cedências mútuas do que cada um teimar nas suas próprias posições, prolongando conflitos estéreis e que prejudicam as partes.

Bem diferente é o consenso para lixar os outros ou desprezando a opinião e os interesses de outros. É o caso dos consensos implicitos ou explicitos do PS e PSD em áreas que requerem, ou consensos mais alargados ou o separar de águas. O caso da Justiça, um consenso explicito do PS e PSD, serviu para tudo menos para resolver os problemas da Justiça. Lembrando João Cravinho serviu mesmo para impedir um combate mais eficaz ao crime económico e à corrupção.

Bem isto a propósito do ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado, invocar o silêncio e a inacção do Governo, a propósito da acusação (já provada), sobre o transporte ilegal de prisioneiros em aviões da CIA para Guantánamo, usando o espaço aéreo e utilizando a bases dos Açores, para proteger Durão Barroso, actual presidente da Comissão Europeia e na altura primeiro-ministro de Portugal, em nome do dito consenso com o PSD.

Consensos com estes são obviamente dispensáveis e servem apenas para limitar e encobrir jogos de interesses. No caso, tem servido para esconder a responsabilidade e a conivência com a administração Bush, no tratamento desumano e criminoso de prisioneiros sem culpa formada, sem julgamento e obrigados a deporem sob tortura, à margem dos mais elementares direitos humanos.

O PS e o PSD merecem a censura pública e a acusação de cumplicidade com estes actos criminosos e terroristas, sem nenhuma dúvida.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

in coerências

O in coerências é o meu novo blogue. Ao dar-lhe o nome de in coerências pretendo deixar claro que não esperem de mim e do blogue, por extensão, uma forma de estar certinha, muito conforme com as regras, o politicamente correcto, as boas maneiras.

Enfim dizer-lhes que significando coerência, um pensamento linear, um percurso harmonioso, uma conexão estanque, um conjunto de ideias e práticas fechadas, sem desvios e sem hesitações, com o que disse ontem, com o que escrevi há uma semana, com o que vou fazer amanhã, então sejamos claros: não me assumo como uma pessoa coerente, em particular, se à palavra, se lhe associarmos a ideia de "coerência" com uma ideia, um pensamento, um modelo, definitivos.

Sou uma pessoa de mudanças. Em mim fervilham turbilhões de pensamentos: e dúvidas, indecisões, incertezas. Mais do que ser coerente esperem de mim e do in coerências, ser consequente. Esse é o meu combate de sempre! Com as minhas utopias e com uma forma de estar na vida: honesta, solidária, responsável, defendendo e lutando por causas nobres - como a justiça social, a dignidade, a igualdade, o respeito pelas diferenças, uma sociedade melhor.

Ser in coerente não é, também, ser incoerente. Ser in coerente é tentar ser, em coerência, consequente, sendo ou não coerente ou incoerente conforme as situações. Coerente nos e com os ideais profundos, incoerente com os desacertos e com os erros, sempre que se torne necessário, não teimando nas ilusões ou nas aparências, com receios que a a máscara caia.

Sou uma pessoa de esquerda, desde que me conheço, desde muito cedo mesmo, mas não tenho um partido agora (e quando o tinha ...não tinha). Em linhas gerais continuo a identificar-me com as propostas políticas e o "projecto" do Bloco de Esquerda, partido em que militei até há uns semanas atrás. Deixei o Bloco por decididamente não ser um homem de partidos e de fidelidades. Mas também com algumas divergências. Que parecendo de pormenor carregam consigo, concepções políticas divergentes, em particular sobre o exercício do poder e sobre como tratar as diferenças, que decorrem ainda, para mim de forma surpreendente, de complexos doutrinais e de vícios antigos ainda inultrapassados.

Como nota final dizer, nesta introdução, que continuo a defender a construção de um grande partido da esquerda portuguesa, uma unidade orgânica das esquerdas, à esquerda do PS, apesar das dificuldades e de ... tudo. A esquerda se quer conquistar a maioria social e política e conquistar suficiente credibilidade deve assumir-se como um partido do poder. O povo simples não vota em oposições, por melhores que sejam. Vota em quem julga que pode resolver-lhe os seus problemas.

O in coerências será assim um novo espaço de intervenção política e social, ainda mais independente se possível, do que os antecessores. Mas será, acima de tudo, um espaço de liberdade e de activismo cívico, na medida da minha disponibilidade e das minhas competências.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Perfil

Introdução:

O meu nome é Fernando, nascido em 1955, casado, tenho dois filhos (um nascido em 80 e outro em 83 – uns bons malandros!…) de um primeiro casamento e estou aposentado desde Dezembro de 2005. Não tenho nenhuma ocupação profissional, não tenho outros rendimentos, tenho casa própria (recorri a um empréstimo bancário que não termina nunca), não tenho poupanças … "chapa ganha chaga gasta".

Sou politicamente comprometido com a esquerda. A “minha” esquerda. Uma esquerda que não é de ninguém a não ser minha. Tenho manias e defeitos, mas sou sério e leal. E isso faz toda a diferença!

Tenho uma vida empenhada no combate pela justiça social. Nas associações, nos sindicatos, nos partidos. Independente e solidário. Estou e saio descontente, revoltado. Volto esperançado, desiludo-me outra vez, torno a sair para voltar outra vez, mais tarde. É assim a minha vida. Um eterno ingénuo e crédulo. Mas da mesma maneira que acredito em mim, com todos os defeitos, tenho de acreditar nos outros, com os seus defeitos também. Sou assim. Somos assim. Alguns.

Hoje sou aderente, um simples aderente, sem qualquer actividade concreta, depois de ter "recusado" o lugar de dirigente da Mesa Nacional a que tinha direito como primeiro eleito substituto e de ter sido deputado municipal e ter algumas responsabilidades locais, pelo Bloco de Esquerda. Amanhã não sei. Nunca sei como há-de ser amanhã. Amanhã é… a hora que há-de vir!.. isto quer dizer que o vínculo partidário, não me diz absolutamente nada. Não quer dizer nada. Não me retira independência. Não me retira consciência crítica. Não sou de ninguém. Nunca serei de um partido. Estou lá… não sou de lá. Estou enquanto acreditar no projecto e nas pessoas. É um instrumento da minha luta. Enquanto achar útil estou lá. Se e quando desacreditar saio… triste, mas tranquilamente. Sempre foi e fui assim.

Depois… num qualquer dia, volto outra vez, para um mesmo projecto, mas um projecto mais maduro. Com as pessoas que queiram levar a bandeira. A bandeira das causas do socialismo a sério. As bandeiras de um projecto de juntar as esquerdas, numa nova esquerda. Uma esquerda que traga algo de bom para os mais necessitados. Continuo a acreditar nos pequenos e também nos grandes passos. Estarei sempre nessa!

Outros dados:

Nome: Fernando António da Silva Marques
Data de Nascimento: 17 de Agosto de 1955
Habilitações Escolares: Curso Geral de Electricidade (incompleto em duas disciplinas)

1 - Pedaços de mim

Ouve-se, com muita frequência, dizer-se em situações de maior exposição pessoal e íntima, que “a minha [a deles] vida dava um filme”. Não deixando de ser certo que a vida é um filme, não é menos verdade que há “fitas” que mais valeriam não ser vistas.

Calha-me a mim, que seria incapaz de proferir tão presunçosa e imbecil declaração, não obstante, se quero dar a conhecer-me melhor, passar para o papel o argumento do “filme”, que um qualquer “espectador”, validará ou não, o suficiente para desperdiçar um pouco do seu tempo .

Sendo o filme da vida, uma sucessão de vários “momentos” em movimento, uma reconstituição dinâmica de um percurso da vida, onde se cruzam e entre-cruzam, experiências, vivências, aprendizagens, sentimentos e emoções, surge-nos assim, "se visto" como a forma mais abrangente, de dar a conhecer ou de descobrir "identidades" não visíveis, ainda assim a partir de uma visão parcial (a minha) e logo, certamente, não inteiramente isenta, mas, tendo que ser, é com  esta apresentação que falo um pouco mais de mim.

Dito isto, quero dizer que tenho muitas dificuldades em falar de mim. Mas no abrir do "livro", ao correr da pena, quero crer permitirá, no emaranhado das descrições e devidamente encadeadas - ao reexaminar o passado, dar conta do presente, perspectivar o futuro - identificar um conjunto de aspectos, não percepcionados (por quem mal ou não me conhece mesmo), decifrará, mais ou menos, quem está por trás de quem Vos escreve. Antes de deixar o meu percurso formativo, escolar, profissional ou de outro tipo, num segundo ponto, fica um esboço da "história de vida", um registo da vida pessoal e social, um referencial da actividade pública.

Mas convém começar pelo princípio.

O princípio: comecei a trabalhar cedo. A nossa casa era O armazém da sucata da minha mãe. Uma mãe sozinha com sete filhos para sustentar e educar. O meu Pai pariu cedo para outras andanças, deixando a mulher e os filhos. Em casa não havia electricidade, rádio, televisão. Esses eram “luxos” dispensáveis. Havia um candeeiro a petróleo e um a acetileno, em sua substituição. O chão era de terra preta. Nesta situação de imensas dificuldades, ALI não havia opções para tomar. Havia apenas um caminho; irem todos trabalhar muito cedo para ajudar a construir o orçamento familiar. As minhas duas irmãs mais velhas foram as mais sacrificadas, porque eram mulheres, porque mais cedo que os outros tiveram de ir "servir", porque ainda foram obrigadas a interromper a escola, uma delas antes de completar a escolaridade mínima. Os outros, os homens, foram até à quarta classe. Apenas eu, sendo o mais novo, o “tempo” permitiu ir um pouco mais além. Até ao ciclo preparatório, mesmo que simultaneamente a fazer uns biscates, numa drogaria, numa sapataria, como ajudante da sapateiro e de fotógrafo "à la minute". Depois, fui trabalhar, com 13 anos, para os Estaleiros Navais de Viana do Castelo e estudar à noite na hoje denominada Escola Secundária de Monserrate. Mas sobre isto falarei noutro local.

Mas o nosso caso estava longe de ser único ou raro. Na sociedade a que o 25 de Abril de 1974 colocou termo, era comum encontrar-se imensos jovens a ficar pela escolaridade obrigatória e a partir dos catorze anos a entrar no mercado do trabalho oficial (oficial e legal, sim, porque aos 10/11 anos, já tínhamos uma ocupação remunerada). Infelizmente, embora com tonalidades diferentes, ainda hoje, tantos anos depois, encontramos trabalho infantil.

Com o emprego, aconteceram os primeiros contactos com a política e o sindicalismo, ganhando forma uma nova visão sobre as coisas e uma consciência de classe, sustentada nas situações particulares da vida. De repente as coisas começaram todas a fazer sentido. A pobreza, a miséria, as desigualdades, as injustiças sociais, passaram a ter uma explicação científica. Os primeiros contactos com a política aconteceram aos 16/17 anos, por intermédio de um colega de trabalho que me sindicalizou no Sindicato dos Electricistas e posteriormente através de um jornal anti-fascista da extrema-esquerda, O Grito do Povo. Mais ou menos um ano depois dá-se o 25 de Abril. Foi um período muito intenso e de muita entrega a valores que se constituíram como símbolo e bandeira para a vida. Foi um tempo que moldou uma personalidade, edificou valores, forjou o homem que hoje sou.

À medida que escrevo isto vou dando conta que afinal tenho pouco a dizer. E que dar-me a conhecer é dar a conhecer uma pessoa comum. Sendo verdade que não há pessoas iguais …há pessoas muito iguais. Os portugueses, tal como outros povos, com uma cultura e uma história de séculos, construíram uma identidade própria, para o bem e para o mal, reconhecida em qualquer lugar. Eu sou um deles, com raízes profundas e marcantes na personalidade, no carácter, na individualidade, no temperamento, do português “suave”, que somos.

Gosto de escrever. O que pode querer dizer que reflicto. Talvez isso explique porque tenho, uma presença na Internet, desde Junho de 1995, actualizada, durante bastante tempo, praticamente todos os dias. Agora já não. Mas às vezes, paro para pensar, nos precisos termos que isso possa significar; parar mesmo, faço-me entender? Pensar, no meu caso, é um acto mais ou menos irreflectido. Estou sempre a pensar. Ou mais provavelmente estarei distraído e disperso, vagueando por pensamentos, sem interesse, sei eu lá bem. A verdade é que na minha cabeça vão fervilhando turbilhões de pensamentos, ao mesmo tempo. Acontecerá o mesmo com todos, presumo. É por isso que digo que paro, às vezes, para pensar. Parar para pensar só num assunto. É o que se chama reflectir, pensar muito, ir aos pormenores para compreender melhor.

Há muitas variáveis que constroem um pensamento. A nossa vivência, o nosso trabalho, o meio em que nascemos e convivemos, as circunstâncias da vida, forjaram personalidades distintas e sabedorias diferentes. Por isso somos diferentes. É no encaixe de algumas destas peças, do puzzle da vida, que se alinham causas idênticas e se juntam as pessoas em volta de certos propósitos. É a esta luz que encontro a explicação para diferentes posicionamentos em questões capitais da organização da sociedade. Ou na forma de estar em sociedade e na vida.

A vida é feita de combates. A minha tem sido feita de pequenas lutas. As conquistas não caem dos céus. As derrotas não são um drama. Já ganhei e já perdi, hei-de ganhar e perder mais vezes, mas não desisto, enquanto pensar que os objectivos ou as causas são justas. Cuidando de não viver distraído com propagandas e coisas que não interessam, tantas vezes ampliadas pelos meios de comunicação.

Eu fui e sou um militante político e social. Quer isto dizer que me envolvo nas coisas que me rodeiam. Que não sou um espectador passivo. Estive na fundação do sindicato dos trabalhadores da Portugal Telecom, sou activista e fui delegado e dirigente sindical. Participei no movimento que conduziu à criação da CGTP. Fui presidente durante uma dúzia de anos de uma associação cultural e recreativa e estive na fundação do Club Portugal Telecom. Fui o presidente da Festa da Cultura, ainda hoje, talvez, passe a imodéstia, um dos maiores acontecimentos culturais alguma vez realizado em Viana do Castelo e que reuniu mais de trezentos artistas de várias áreas. Fui o impulsionador de uma jornada por Timor. Fiz parte de movimentos de cidadãos por causas como o Aborto. Fui deputado municipal pelo Bloco e de uma Assembleia de Freguesia pela CDU como independente. Não abdico da participação cívica e de uma cidadania exigente.

Enquanto componho este texto, estou a ouvir uma música de Jorge Palma, a dar-me um pretexto, para também falar em desencantos. Quero com isto sublinhar que para lá das boas intenções que as há e de uma genuína dedicação à causa pública que também existe, nas nossas costas, também se escondem, motivações hipócritas, oportunismos vários, grandes vaidades, muita falsidade e egoísmos, enfim, muitos interesses pessoais e ocultos inaceitáveis.

Diz a canção que “as cores do teu arco-íris estão todas a desbotar”. Pontaria afinada, como é costume em Jorge Palma. Mas se não for a utopia para nos manter vivos e activos o que será? Há também um belo poema de António Gedeão que me acompanha nos piores momentos e que trago aqui; “Se não fosse esta certeza/ que nem sei de onde me vem/ não comia, não bebia/ não falava p’ra ninguém // acocorava-me a um canto/ no mais escuro que houvesse/ deitava as mãos à boca/ e viesse o que viesse”.

É nesta alturas que nos questionamos: mas onde estão os amigos e companheiros? Quando foi a última vez que nos juntamos? É uma vida a correr esta. A caminho da escola, do infantário, a ir às compras, parados no meio do trânsito, provavelmente a trabalhar ainda que agora não há horas para sair… uma azáfama constante é o que é. É a vida, dirão. Não devia ser, digo eu. Vai nos faltando o tempo.

Não sei se isto chegue para me dar a conhecer um pouco melhor, não sei. É que afinal dizendo tanto, tenho a sensação que nada disse ainda …e há tanto para dizer. E ao escrever vou dando conta que estarei a ser generoso nesta auto-avaliação, tanto mais verdade quando julgo conhecer-me bem. Sobretudo, os meus defeitos. Mas também, reconheço, algumas qualidades. E também muitos dos meus limites.

Sobre o que serei, não sei. Espero um dia vir a ser um velhinho feliz, orgulhoso do seu percurso. Até lá espero ter muito que fazer ainda. Falta saber o quê? Agora que tenho todo o tempo, dada a minha precoce aposentação, ando a pensar muito no assunto. Não cheguei ainda a nenhuma conclusão. Cheguei recentemente a pensar testar a minha capacidade para prosseguir os estudos a um nível superior mas agora não me parece. Confesso que me falta algum entusiasmo. Os próximos tempos o dirão. Se não haverá outras escolhas e outros caminhos a percorrer.

2 – Outros percursos

A - Percurso educativo

1962 a 1965 - Escola Primária do Carmo
4ª Classe

1966 a 1967 - Escola P. Frei Bartolomeu dos Mártires (antiga)
Ciclo Preparatório
1968 a 1985 - Escola Comercial e Indústrial de Monserrate (c/ interrupções várias)
Curso Montador Electricista (incompleto no último ano)
Curso Geral de Electricista (incompleto em duas disciplinas)

B - Percursos Profissional

Carreira

../../1969 a ../../1970 - Aprendiz de Electricista
15/06/1970 a 22/11/1974 - Jornaleiro
23/11/1974 a 31/06/1975 - Trabalhador indiferenciado
01/07/1975 a 31/03/1981 - Serventuário de instalações técnicas e Auxiliar.
01/04/1981 a 17/02/1992 - Electrotécnico de Telecomunicações / Técnico Operacional de Telecomunicações
01/04/1981 a 17/02/1992 - Técnico Operacional de Telecomunicações Assistente/Elect. de Telecomunicações Principal
18/02/1992 a 31/12/2005 - Técnico/Gestor Comercial

Formativo

../06/1980 a 01/04/1981 - Curso de Electrotécnico de Telecomunicações
../01/92 a 17/02/92 - Curso Técnico Operacional de Telecomunicações Assistente
../01/92 a 17/02/92 - Formação para Agente Comercial*
20/06/94 a 24 /06 /1994 - Técnicas de vendas*
06/07/1995 a 07/07/1995 (8 dias) - Relacionamento com Clientes*
10/05/1995 a 12/05/1995 - Fundamentos de marketing*
../../1995/ a 11/05/1995 (?) - Gestão estratégica de uma base de Clientes*
../../.... a ../../.... (?) - Organização e Gestão do tempo*
02/09/1994 a 11/06/1996 - Windows +Word +Excel + Powerpoint+ Access (..dias?)
25/03/2005 a 27/03/1996 - Equipa de vendas*
07/02/1996 a 09/06/1996 - Desenvolvimento de Equipas (..dias?)*
05/02/2001 a 05/02/2001 - Soluções Avançadas para Comerciais
13/09/2000 a 29/09/2000 - Negociação e fecho de vendas (5 dias)*
(*promovidas pela Egor, Mercury Internacional, Área-Chave, entre outros)
10 anos de Comercial - Formação em Equipamento, serviços, redes de telecomunicações, rotinas informáticas de apoio

C - Actividades sociais

Praticante de Andebol
Treinador de Andebol (4º grau)
Presidente direcção do Club CTT (12 anos)
Dirigente/Fundador do Club PT
Presidente do I Encontro Nacional da Cultura dos Trabalhadores dos CTT/PT
Actor (?) de Teatro
Fundador de um Grupo de Teatro
Fundador do "Para que ..." - revista dos trabalhadores dos CTT
Delegado sindical do Sintel
Dirigente Regional do Sintel
Participante activo no 1º Congresso de todos os Sindicatos (CGTP)

D - Política

Membro da OCMLP até 1975
Membro da FEC-ML até 1975
Membro da UDP até 1996 (?)
Membro do PCP (R) até 1996 (?)
Candidatura de Lurdes Pintassilgo
Candidatura de Otelo Saraiva de Carvalho
Condenado (com toda a direcção distrital da candidatura de Otelo) a 2 anos de pena suspensa por difamação
Eleito pela CDU (independente) Assembleia de Freguesia de Sta. Maria Maior
Aderente do Bloco de Esquerda desde a fundação - militante de base, dirigente local, dirigente nacional, militante de base.
Cabeça de lista (não eleito) pelo Bloco de Esquerda em 1994
Cabeça de lista (eleito) pelo Bloco de Esquerda em 2005
Membro do Movimento Cidadania e Responsabilidade pelo Sim na campanha do Aborto

E - Outras
“Amigo” do Teatro Noroeste e do Teatro à Sexta
Contribuinte e/ou sócio de alguns movimentos de solidariedade social
Blogger (?) desde 2005

3 - O in coerências

O in coerências é o meu novo e último blogue. Ao dar-lhe o nome de in coerências pretendo deixar claro que não esperem de mim e do blogue, por extensão, uma forma de estar certinha, muito conforme com as regras, o politicamente correcto, as boas maneiras. Ou ser coerente.

Enfim dizer-lhes que significando coerência, um pensamento linear, um percurso harmonioso, uma conexão estanque, um conjunto de ideias e práticas fechadas, sem desvios e sem hesitações, com o que disse ontem, com o que escrevi há uma semana, com o que vou fazer amanhã, então sejamos claros: não me assumo como uma pessoa coerente, em particular, se à palavra, se lhe associarmos a ideia de "coerência" com uma ideia, um pensamento, um modelo, definitivos. Prefiro usar a expressão consequente.

Sou uma pessoa de mudanças. Em mim fervilham turbilhões de pensamentos: e dúvidas, indecisões, incertezas. Mais do que ser coerente esperem de mim e do in coerências, ser consequente. Esse é o meu combate de sempre! Com as minhas utopias e com uma forma de estar na vida: honesta, solidária, responsável, defendendo e lutando por causas nobres - como a justiça social, a dignidade, a igualdade, o respeito pelas diferenças, uma sociedade melhor.

Ser in coerente não é ser incoerente. Ser in coerente é tentar ser, em coerência, consequente, sendo coerente ou incoerente conforme as situações. Coerente nos e com os ideais profundos, incoerente com os desacertos e com os erros, sempre que se torne necessário, não teimando nas ilusões ou nas aparências, com receios que a a máscara caia.

Sou uma pessoa de esquerda, desde que me conheço, desde muito cedo mesmo, mas não tenho um partido agora (e quando o tinha ...não tinha [entretanto voltei atrás na minha decisão e por ora continuo filiado). Em linhas gerais continuo a identificar-me com as propostas políticas e o "projecto" do Bloco de Esquerda, partido em que militei [continuo aderente] até há uns semanas atrás. Deixei o Bloco por decididamente não ser um homem de partidos e de fidelidades. Mas também com algumas divergências. Que parecendo de pormenor carregam consigo, concepções políticas divergentes, em particular sobre o exercício do poder e sobre como tratar as diferenças, que decorrem ainda, para mim de forma surpreendente, de complexos doutrinais e de vícios antigos ainda inultrapassados.

Como nota final dizer, nesta introdução, que continuo a defender a construção de um grande partido da esquerda portuguesa, uma unidade orgânica das esquerdas, à esquerda do PS, apesar das dificuldades e de ... tudo. A esquerda se quer conquistar a maioria social e política e conquistar suficiente credibilidade deve assumir-se como um partido do poder. O povo simples não vota em oposições, por melhores que sejam. Vota em quem julga que pode resolver-lhe os seus problemas.

O in coerências será assim um novo espaço de intervenção política e social, ainda mais independente se possível, do que os antecessores. Mas será, acima de tudo, um espaço de liberdade e de activismo cívico, na medida da minha disponibilidade e das minhas competências.

Deixo-vos com um poema de Alfredo Reguengo, anti-fascista e militante comunista já falecido, que pretende seja o meu lema quando as palavras se soltam na escrita.

Escrevo
como sei
e como sinto;
nada oculto, nem minto;
não me fico
calado;
não engano
ninguém.

Digo
o que tenho
a dizer
(conforme o posso
dizer…)

Os meus poemas
são
a minha voz,
não têm
mistério
-são
um recado
sério.

Não são para adivinhar,
são
para escutar
e compreender.
Ao lê-los
ninguém
pode
entendê-los
de duas maneiras
diferentes
(eles são
o que sinto,
o que tu sentes
-se és
vivo e queres
continuar a viver),
nem buscar
no que
não digo
-ou para lá
do que digo-
coisas
que
não
quisesse
dizer.

Eu não me calo,
eu falo
sem mentir;
digo
-e digo
com
calor-
para vós,
para comunicar.

Eu não
falo
por
falar.

Eu sigo
-eu
vou
para onde for,
para
onde
tenha
de
ir!

Alfredo Reguengo
 

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