sábado, 27 de fevereiro de 2010

Cantiga da Velha Mãe e dos Seus Dois Filhos


Ai o meu pobre filho, que rico que é
ai o meu rico filho, que pobre que é
nascidos do mesmo ventre
um vive de joelhos pr'ó outro passar à frente
e esta velha mãe pr'áqui já no sol poente

Um dia há muito tempo, vi-os partir
levando cada um do outro o porvir
seguiram pla estrada fora
um voltou-se pra trás, disse adeus que me vou embora
voltaremos trazendo connosco a vitória

De que vitória falas, disse eu então
da que faz um escravo do teu irmão?
ou duma outra que rebenta
como um rio de fúria no peito feito tormenta
quando não há nada a perder no que se tenta?
Depois vieram novas que o que vivia
da miséria do outro, se enriquecia
não foi pra isto que andei
dias que foram longos e noites que não contei
a lutar pra ter a justiça como lei

Às vezes rogo pragas de os ver assim
sinto assim uma faca dentro de mim
sei que estou velha e doente
mas para ver o mundo girar dum modo diferente
'inda sei gritar, e arreganhar o dente

Estou quase a ir embora, mas deixo aqui
duas palavras pra um filho que perdi
não quero dar-te conselhos
mas s'é o teu próprio irmão que te faz viver de joelhos
doa a quem doer, faz o que tens a fazer

José Mário Branco - Margem de Certa Maneira

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Socialismo, dizem eles.

Acabou por falecer ontem num hospital da capital cubana depois de 85 dias em greve de fome, Orlando Zapata Tamayo. Membro do Movimento Alternativa Republicana, estava preso desde 2003 com mais 74 pessoas e reclamava melhores condições prisionais. Segundo a Amnistia Internacional, Orlando Zapata, era um dos 65 prisioneiros de consciência. Trata-se de um assassinato virtual, premeditado", estimou Sanchez acusando as autoridades de terem demorado a oferecer cuidados ao dissidente, que havia sido transferido semana passada de Camaguey (centro), onde estava preso, para Havana.

Pois ... que venham os do costume dizer-me que Cuba é Socialista, se isto fosse o Socialismo eu nunca defenderia o Socialismo. Mas não, Cuba não tem (já) nada de Socialismo. É um regime ditatorial e desrespeitador dos mais elementares direitos humanos. Hei-de repetir-me sempre que for necessário e enquanto o regime castrista não cair.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Pornografia

A violação do segredo de justiça, como princípio, não é uma coisa boa, na medida em que faz passar para o julgamento da opinião pública, casos, situações e pessoas, normalmente de forma parcial, que não permitem, em coerência, ajuizar de forma completamente isenta e independente. Mas também, reconheça-se, muitas vezes é a única forma, face a alguns constrangimentos da justiça, para dar expressão pública a realidades que, sem esse quebrar das regras, talvez nunca se viesse a saber e em toda a sua extensão.

A justiça obedece a princípios e leis, mas é determinada, em última análise, por pessoas, e como tal, eventualmente dependente do desígnios de quem decide. A cada um de nós e aos jornalistas especialmente, cabe, extrair o que é do interesse público, e apenas este, se se presumir que estão em causa valores mais importantes. É o caso das escutas que estão a envolver Sócrates e cª, "apanhados", no caso Face Oculta, que pela sua natureza, dimensão e motivos, se estão a revelar como perigosos para a saúde da democracia em Portugal.

Nestas circunstâncias, parecem-me bem-vindas as violações do segredo de justiça que tanto tem agitado certos meios políticos. O caso assinalado aqui é como disse um dos intervenientes verdadeiramente pornográfico e, acrescento eu, merecedor de uma investigação a sério.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Obama recebe Dalai Lama na Casa Branca

Dalai Lama? Este nome diz-me alguma coisa. Não é o líder espiritual do Tibete, esse mesmo que não foi recebido pelo Primeiro-ministro, Sócrates e pelo Presidente, Cavaco, em Portugal, com medo das represálias da China? Tão pequeninos, mesquinhos, merdosos medrosos que nós somos...

A mesma luta

Em 1986, Maria de Lurdes Pintassilgo
Em 2011, Fernando Nobre

Sinto que desta vez é que vai ser. Um presidente culto, independente, humanista, solidário, sensível aos problemas sociais, desprendido de interesses, uma voz na defesa dos mais desprotegidos, contra a intolerância e a indiferença. Portugal já merecia um Presidente assim. Desta vez é que vai ser. Eu acredito!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Fernando Nobre: está escolhido o meu candidato


Fernando Nobre, Presidente da Assistência Médica Internacional anunciou a sua candidatura à Presidência da República. Saúdo esta candidatura e declaro-lhe já o meu apoio. Fernando Nobre, era um dos meus candidatos preferidos, a par de Carvalho da Silva.

Sendo Fernando Nobre, um candidato livre, independente, apartidário, que assume "no exercício de uma cidadania activa e corajosa e [sentindo] que o País atravessa um período em que constantemente se põem em causa os valores e as pessoas, as promessas e os projectos", o compromisso de "poder fazer a diferença e dar o exemplo", dá-me a garantia de um Presidente empenhado na solidariedade e justiça social, com a coragem suficiente, "sem acomodamento" ao lugar, para defender causas e valores, caros à esquerda e a todas as pessoas de bem.

Força Dr. Fernando Nobre. Conte comigo!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Semelhança

Num gesto de enfado,
deito fora o cigarro meio fumado.
No chão se irá queimando
até que se consuma...

Nós somos, também, cigarro fumegando
-a Vida é que nos fuma!...

Alfredo Reguengo, 14 de Agosto de 1963

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A manifestação "pelas liberdades": uma iniciativa que serve a estratégia de vitimização de Sócrates

A minha opinião sobre Sócrates é conhecida: acho-o um presunçoso, um mau carácter, alguém que lida mal com a verdade, com a critica, com os compromissos. Um deslumbrado pelo poder, arrogante e autoritário, mesmo "ameaçador" para quem dele discorda.

Sócrates, tem visto o seu nome envolvido em inúmeros casos, todos eles degradantes do sistema político democrático, da classe política e da própria imagem do país, enquanto Primeiro-ministro. O direito à presunção de inocência é sagrado. Mas as suspeitas existem e Sócrates não as sabe lidar com elevação. Pelo contrário, dispara em todas as direcções. Contudo, argumente como argumentar, as suspeitas em alguns casos são muito fortes, nalguns casos, confrontam-o mesmo com crimes graves contra o Estado de Direito que nenhuma ilegalidade formal pode esconder e com as suas mentiras.

Uma coisa são as formalidades, os cirúrgicos segredos de justiça desvendados, as escutas ilegais ... ou não, os ouvidos afinadas em conversas particulares, o jornalismo de buraco de fechadura. Inaceitáveis, talvez. Impróprios, provavelmente. "Ao homem", certamente.

Mas, nada, mesmo nada, pode inabilitar o que foi ouvido, o que foi visto, o que foi escutado: do que importa, obviamente ... expurgando as referências pessoais que não interessem. O caso TVI é grave! A revelação pública do despacho do Juiz de Aveiro, trazido à luz pelo Sol e Correio da Manhã são demasiados graves para serem ignorados. Os indícios de uma conspiração planeada, envolvendo pessoas estrategicamente colocadas em pontos-chave, visando "apagar" um órgão de comunicação "hostil", afastar jornalistas e programas, devem ser investigados até ao fim! Estão em causa, princípios de um Estado democrático: a liberdade de imprensa e a liberdade de opinião! E estão em causa abusos de autoridade, de poder, de influências que põem em causa os alicerces de um Estado de Direito, como refere o Juiz de Aveiro e que não foram tidos em conta pelo Procurador e pelo Juiz do Supremo o que faz temer, igualmente, pela independência e o equilíbrio dos poderes.

Rigor, verdade, responsabilidade, ética, integridade, transparência, são princípios de um Estado democrático e dos agentes políticos que andam pelas ruas da amargura e que já ninguém parece acreditar, lamentável e perigosamente.

Por fim e porque está anunciada uma manifestação "pelas liberdade" e a correr uma petição no mesmo sentido, uma opinião em duas ou três linhas. Não concordo com a manifestação! Porque na sua génese, não está a defesa das liberdade em concreto - liberdades que alguns dos promotores, pessoas de direita e apoiantes de políticas restritivas nas mesmas posições e nas mesmas circunstâncias, fariam de igual modo, estou convicto -, porque, embora graves, não me parecem estar em causa as liberdades, mas apenas tentações de uma pessoa e acólitos, sem possibilidade de vingar, porque ainda acabam por favorecer Sócrates na sua estratégia de vitimização. Penso que neste momento é importante o relato nos média, a intervenção acutilante na blogosfera e também a criação da comissão de inquérito na Assembleia da República.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Os Evangelistas de Crespo

"O governo Sócrates tem tido o mérito de nos surpreender pela frontalidade. Se erra diz que errou e volta atrás. Isto é raro nos que nos governaram sem erros e sem dúvidas".

Mário Crespo - Jornal de Notícias, Janeiro de 2008.
O que acima está escrito foi publicado por mim, citando Mário Crespo, num blogue entretanto findo, o Sentido Único, em 15 de Janeiro de 2008. Tentado pelo humor, dei a minha sentença: internem o Mário Crespo urgentemente. E terminei assim o post. Perante tão clara afirmação de Mário Crespo, quando Sócrates se apresentava no cume da sua arrogância,a  rasgar promessas e compromissos, a castigar os mais desprotegidos, autoritário na comunicação, altivo no diálogo, manhoso nas relações institucionais, o que poderia dizer eu, também alvo das malfeitorias políticas de Sócrates, de Mário Crespo que não fosse o que disse? O Homem (Mário Crespo) está "doido"! O Mário Crespo pica-se! Emprestando, há frase, como parece perceptível, uma dose (falhada? -não tenho muito jeito) de humor.

O que desconhecia e só agora por mero acaso cheguei lá, é que existia um "Clube de fãs de Mário Crespo", num blog O Desassombrado que a propósito do meu comentário, tenha elaborado um post com o sugestivo título de "Vai mas é trabalhar", com direito a fotografia e tudo.

Eu só queria dizer ao(s) autor(es) que sou muito "fresquinho" apesar do meu "aspecto". Que fui reformado prematuramente por não ter "escolha". Que efectuei 36 anos de desconto, desde os 14 aos 50 anos de idade. E que comecei a trabalhar ainda muito antes, com 8/9 anos, ainda na escola primária, sem parar. Mais tarde, a partir dos 13 anos, trabalhando e estudando à noite. E que agora, faço o que bem quero e disso não tenho de lhes dar satisfações. Ah! E continuo a pagar os meus impostos, todos. E mais; quem paga o meu salário é o fundo de pensões de uma empresa a PT. Pode(m) portanto ficar descansado(s) que de si (Vós) (nem de ninguém) não recebo nada que não seja meu; o resultado de 36 anos de descontos.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Lei das Finanças Regionais aprovada.

Com a nova Lei das Finanças Regionais, hoje aprovadas na Assembleia da República, são agora mais claras as regras quanto às transferências financeiras para as regiões e mais apertado o controlo quanto ao endividamento permitido. Com a excepção do PS todos os partidos votaram contra as transferências casuístas e o regabofe de um endividamento descontrolado e crescente (à medida dos destemperos de João Jardim, dono e senhor da ilha, mas completamente incapaz de resolver os graves problemas da região -que um falso PIB mascara).

O paradoxo é que estes mesmos partidos que votaram estas alterações são os mesmos que aprovaram na Assembleia Legislativa da Madeira (com a abstenção do Bloco), a continuação do regabofe; um endividamento destravado e uma "transferência" de 150 milhões verdadeiramente inconcebível. Agora, reafirma-se, colocados termo, com a "transferência" reduzida a 50 milhões e regras de endividamento mais controladas.

Por cá, o PS e o Governo ameaçam com a demissão: o PS e o Governo que no ano passado, em plena crise, adiantaram 130 milhões e já no fim do ano mais um aval de 79 milhões. O PS que na Madeira aprovou a proposta de "transferência/endividamento" de 150 milhões. Uns sem-vergonha!

O PSD, por outro lado, mostra quanto é um partido destrambelhado. De uns iniciais 150 milhões de euros, fortemente reivindicativos, reclamados, exigidos com toda a veemência, acaba por aceitar qualquer coisa. O PSD acabou por ir aos saldos. Uma questão de falta de consistência, rigor, seriedade e responsabilidade. Sem cura, possível.

As posições contraditórias do PCP e do CDS; na Assembleia Regional da Madeira com João Jardim sobre o montante da "transferência", e na Assembleia da República com todos os partidos da oposição contra a irresponsabilidade e o despesismo insustentável, mostram uma cedência aos subjectivismos e interesses das clientelas regionais. Fica um aparte: o medo que tenho da regionalização embora concordando que há que fazer algo mais para descentralizar meios e competências.

O Bloco de Esquerda manteve na Assembleia da República coerência com a posição assumida na Assembleia Legislativa da Madeira: a recusa de uma Lei com "um cunho despesista e de endividamento verdadeiramente assustador".

Nota: Para perceber melhor o alinhamento de posições das oposições deixo-os com as explicações de Francisco Louçã sobre a posição do Bloco e se forem seu "amigo" no facebook, aconselho-os a ler os seus comentários/respostas sobre algumas levantadas sobre o mesmo tema. Fica bem a Louçã (como a Miguel Portas) mostrar a sua disponibilidade para responder e esclarecer todas questões. No que me toca fiquei mais esclarecido.

Mas também ao lê-los lembrei-me do inédito dos 3 Cantos de José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto, Faz parte (O retorno das Audácias):

"Quando aos poucos
dás o flanco
e dás em justificar-te
frente ao espelho
e frente aos outros
de que fazias parte"

… qualquer coisa não estará muito bem, digo eu.


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Mário Crespo: ser ou não ser ou a liberdade de opinião.


Mário Crespo diz o que disse e não sei se fala verdade.
Parece-me contudo um pouco surrealista que o Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão, encontrando-se num almoço de um Hotel de Lisboa, conversem, incautos, num tom audível nas mesas ao redor, sobre a figura de Mário Crespo em termos ofensivos e exprimindo uma incomodidade com a sua relevância mediática, como jornalista e como opinante, ao ponto de o considerarem "um problema" a precisar de uma "solução". De facto não parece ser normal que se conspire contra um jornalista num espaço público, à luz do dia, numa mesa de um restaurante, perto dos ouvidos de outros.

Mas, mesmo não parecendo verosímil lá que podia ser, podia ser. Os exemplos, de tentar silenciar vozes incómodas ao Governo e a Sócrates, são mais que muitos. O Jornal de Sexta-Feira da TVI, o "afastamento de José Eduardo Moniz, a saída de José Manuel Fernandes do Público, o controlo "editorial" sobre a maioria dos jornais, o problema Marcelo Rebelo de Sousa, a tentativa de asfixia financeira com a retirada de publicidade do Estado nos meios de comunicação "hostis", etc. E que Mário Crespo estava (está) a ser incómodo estava. Vê-se e sente-se.

Dito isto, dizer que também não tenho em boa conta Mário Crespo, como profissional e pessoal e politicamente. Uma questão de gosto e palpites. Baseados na suas opiniões, nas entrevistas que deu e que faz, na forma como conduz os seus programas, servil e bajuladora com uns e fingida e emproada com outros. E finalmente nas suas posições políticas "variáveis", consoante os ventos e os tempos, enfim, oportunistas.

Mas, obviamente o JN deveria ter publicado a sua crónica. Aquele espaço era a coluna de opinião de Mário Crespo. Alegar que era uma notícia que carecia de ouvir a outra parte não cola. Mário Crespo fala em várias fontes. O Jornal sempre poderia (pode, poderá) em qualquer momento ouvir a outra parte.
 

Copyright 2009 All Rights Reserved Revolution Two Lifestyle theme | adquirido e adaptado por in coerências